sexta-feira, outubro 29, 2004

Presidenciais

Ontem vi parte da entrevista de Freitas do Amaral na RTP.

Como é que é possível que, intervenção após intervenção, um dos pais do CDS, pareça cada vez mais (apesar de algumas divergências de fundo) um dos melhores candidatos da esquerda às Presidenciais?...

O que vale é que ele próprio me tirou algum peso da consciência clarificando que não é de direita mas de centro e que sempre assim se afirmou. Segundo as suas palavras acredita em políticas económicas de contenção, de centro-direita, e em políticas sociais de centro-esquerda.

Por hoje vou acreditar nisto, senão tenho que pôr todo o meu sistema de valores em causa e agora não tenho tempo!...

JMF no seu melhor!...

Ontem, no editorial do Público, JMF voltou a despir a sua capa de crítico de Santana e voltou a vestir a de devoto de São Zé Manel Barroso, o Durão!

Assim, de forma a criticar o Parlamento Europeu por ter começado a funcionar (e no meio de alguns argumentos que fazem todo o sentido, reconheço) acabou por ir buscar umas declarações de Cohn-Bendit com quase 40 anos:

"P.S. - Um dos heróis da discussão parlamentar foi o mesmo que, na década de 70, quando trabalhava num infantário, descreveu assim algumas das suas experiências: "Às vezes acontecia que algumas crianças abriam a minha braguilha e começavam a acariciar-me. (...) Se insistiam, também as acariciava. (...) As meninas de cinco anos tinham aprendido como excitar-me. É incrível." Quando estas declarações antigas foram desenterradas pelos "media" falou-se de "caça às bruxas", pois o seu autor é, "apenas", o intocável Daniel Cohn-Bendit. Se, por acaso, fosse indicado para comissário do mesmo pelouro que Buttiglione, alguém imagina que se levantaria idêntica tempestade entre os deputados?"

A demagogia do personagem bateu no fundo! Dificilmente JMF poderá descer mais baixo. Ele que foi maoísta e que provavelmente passou por alguma comuna em algum momento da sua adolescência deveria saber melhor que ninguém enquadrar estas declarações.

São declarações feitas num período de revolução sexual e muita droga nas carolas! Um período de libertinagem total, sem valores e cheio de exageros injustificáveis! A época das comunas e do sexo livre, foi a época da libertação sexual e da revolução de costumes e foi um período necessário e que permitiu que a geração dele e a nossa sejam gerações tão diferentes das anteriores.... Estas declarações seriam gravíssimas se Cohn-Bendit as mantivesse hoje, a frio e já a uma distância tão grande desse tempo. Mas, a realidade, é que ele próprio já as condenou... Como tal, este depoimento (chocante!) não tem nada a ver com pedofilia, estando até mais próximo de uma primeira forma de educação sexual (embora uma forma totalmente imbecil e repugnante).

As declarações de Buttiglione, pelo contrário, são recentes, partiram da sua exclusiva vontade (como afirmou ontem Freitas do Amaral, a política e a religião estão há muitos anos separadas e assim devem continuar) e nem a própria Igreja é tão reaccionária, p.e. relativamente à instituição matrimónio e ao papel da mulher na sociedade, quanto Buttiglione foi (baseio-me uma vez mais na entrevista de Freitas do Amaral ontem à RTP, um católico reconhecido que ficou também ele chocado com as afirmações do Rocco).

Enfim... a cegueira de JMF quando fala do seu ídolo não pára de me surpreender. Chega ao ponto de conseguir pôr em causa o seu próprio trabalho...

quinta-feira, outubro 28, 2004

Homo floresiensis

Não percebo puto do assunto mas acho a notícia muito interessante. A possibilidade (especulação) de ainda haver hominídeos "desconhecidos" do homem ocidental em algumas ilhas indonésias mais ainda. De certeza que se os missionários portugueses os encontraram os tentaram evangelizar. É ir à Torre do Tombo procurar.

A notícia vem no Público aqui, aqui e aqui.

O original saiu na Nature.

1961

O ano de 1961 foi negro para Salazar, tanto nas colónias como na metrópole. A revolta iniciada no norte de Angola pela UPA inaugurou a guerra colonial que havia de se estender por 3 frentes. O Daomé (hoje Benim) ocupou São João Baptista de Ajudá. A União Indiana acabava com 450 anos de presença portuguesa na Índia.

Por cá houve também dois acontecimentos relevantes: foi desviado um avião que serviu para distribuir propaganda contra o regime nos céus de Lisboa e foi tomado de assalto um navio, o Santa Maria, com o objectivo de chamar a atenção da comunidade internacional para a situação política que se vivia em Portugal. Hoje já ninguém tem pachorra para aturar estas coisas mas parece que foi a primeira vez que meios de transporte foram desviados com estes propósitos.

Hoje à noite vai ser transmitido no DocLisboa um documentário sobre o Santa Maria. É às 21 na Culturgest. Acho que não vou poder ir mas se alguém for que me conte.

28, quinta-feira
21H00 > Grande Auditório

Santa liberdade [CI]
87’. Espanha. 2004, real. Margarita Ledo Andión

Em 1961, o paquete Santa Maria é ocupado por um comando armado ibérico que pretende denunciar as ditaduras de Franco e Salazar. O navio passa a chamar-se Santa Liberdade e converte-se em cenário da história. Três membros do comando reencontram-se pela primeira vez neste filme.

Laranja 3G

A Terceira Geração de Líderes Sociais Democratas (de ora em diante Laranja 3G) tem vindo a prestar um enorme serviço às democracias Portuguesa e Europeia:

- O 16º Governo Constitucional Português, com o contributo do inefável Jorge Sampaio, tem vindo a conseguir acordar a opinião pública, despertar o debate de ideias e pôr entidades como a Alta Autoridade para a Comunicação Social a trabalhar;

- Durão Barroso conseguiu que o Parlamento Europeu despertasse e começasse a fazer uso efectivo dos instrumentos ao seu dispôr enquanto única entidade eleita pelos cidadãos dos países membros da UE.

A todos eles, pelo seu abnegado e desinteressado trabalho em prol do desenvolvimento sustentável da democracia do Velho Continente, "Obrigadinhos" (cheios de orgulho pátrio) do Queimado!

Governo nega-se a comentar declarações do Prof.

terça-feira, outubro 26, 2004

Cubano sofre

Em Cuba circulam 3 moedas:
- o peso,
- o dólar dos states e
- o peso convertível, que se troca à taxa de 1 por 1 contra o dólar americano.

Na maioria das lojas onde existem produtos à venda (as outras estão vazias ou quase) apenas se aceitam dólares e pesos convertíveis. O turismo e as remessas dos emigrantes fazem com que o dólar seja a moeda mais utilizada e, por razões óbvias, a preferida (o peso convertível não vale um tostão fora da ilha).

A partir de 8 de Novembro as lojas deixam de aceitar dólares e trocá-los por pesos convertíveis vai estar sujeito a uma taxa de 10%. No entanto, a posse de dólares não vai ser penalizada. Na verdade trata-se de apenas um imposto de 10% sobre a emigração e o turismo. Cubano sofre.

A notícia completa:

Le dollar n'aura plus cours à Cuba

(revisto)

Trabalheira

Ele é o DocLisboa.
Ele é a Semana do Filme Francês.
Ele é a Quinzena de Dança de Almada.
Ele é os milhentos filmes em cartaz e que não tenho podido ir ver.
Ele é a Paula Rego em Serralves que este fds não tive tempo de ir visitar.
Ele é as promoções do Continente...

Acho que vou perder tudo, não consigo dar vazão a tanta coisa.

Conjuntura económica

Os economistas (e os outros todos) que querem mandar umas bocas sobre o clima económico costumam recorrer a dados como a variação do PIB per capita, da taxa de desemprego, da taxa de juro, do nível de confiança dos consumidores e dos industriais, das exportações e das importações, da compra de veículos novos, da produção industrial...

Proponho que se passe a incluir a emigração neste rol de indicadores. Assim sendo, cá vai mais uma má notícia:

Imigração: comunidade portuguesa na Suíça foi a que mais cresceu este ano

sexta-feira, outubro 22, 2004

Comunicado

É com enorme prazer que anunciamos que este blog foi agraciado com a Certificação PdC.

Para quem não a conhece, a Certificação PdC (Princípio do Contraditório) é atribuida a todos os espaços de opinião e debate que respeitam a Norma GS (Gomes da Silva).

Com a substituição da área de comentários pela área de Contraditórios, conseguimos atingir o nosso objectivo e somos o primeiro blog nacional a poder ostentar esta insígnia!

À vasta equipa que tornou isto possível, os nossos Obrigadinhos!

Pelos Queimadores,
JTF

Cabeça-de-obra

Na Quinta-feira dia 20 teve lugar no ISCTE uma conferência sobre Criatividade nas Cidades. Tratou-se da apresentação de um estudo feito na Europa tendo por base um trabalho anterior realizado nos EUA. Nesse estudo introduz-se uma nova forma de encarar a relação entre investimento, tecnologia, capital humano e crescimento económico.

Apesar de não ser radicalmente novo, uma vez que há trabalhos anteriores sobre a importância dos factores imateriais para o surgimento da inovação (ver, por exemplo, um muito interessante sobre a importância das interacções AQUI), foi o primeiro que encontrei a acentuar, de uma forma explícita, a importância da “abertura de espírito” para o surgimento da inovação.

A história tem por base a situação vivida em Pittsburgh (ver posta “Economia e Sociedade”). Antigo coração da indústria pesada americana, a cidade entrou em declínio acentuado nos anos 80 (perdeu 150.000 postos de trabalho desde então, contando actualmente com 300.000 habitantes, tantos como no século XIX) devido ao surgimento de um novo modelo económico.

A cidade decidiu então aproveitar a base industrial e tecnológica de que dispunha (importantes indústrias e universidades) e apostar em tecnologia. O primeiro grande e prometedor resultado foi a criação da Lycos. Mas passado um ano a Lycos mudou para Boston, apesar das boas condições proporcionadas em Pittsburgh (nomeadamente instalações e bons programadores de software).

A razão? A dificuldade em atrair outros quadros – da “classe criativa”, nomeadamente pessoal relacionado com o design ou o marketing – para uma cidade industrial decadente e sem grande vida para além do emprego. Os próprios estudantes das universidades locais fugiam após acabar os cursos, revelando o fraco poder de atracção da cidade. Assim, o que os investigadores descobriram foi que a tecnologia é fundamental (como já antes o era) mas que é necessária mais criatividade para aplicar a tecnologia que antes. São necessários trabalhadores com capacidade de encontrar soluções para resolver problemas, de ter ideias, de inovar. Esses trabalhadores fundamentais no novo modelo económico constituem a “classe criativa”, grupo muito vasto e heterogéneo composto por arquitectos, engenheiros, designers, artistas, economistas, etc.

E o que atrai/retém a “classe criativa”? Os estudos levados a cabo evidenciaram a importância da existência de comunidades abertas e diversificadas onde a diferença seja aceite e a criatividade cultural de fácil acesso. Esses estudos permitiram encontrar uma forte correlação entre a aceitação de imigrantes, mulheres, artistas, boémios e homossexuais e crescimento económico.

A diversidade revelou-se um activo fundamental para o sucesso das cidades, sendo que as urbes mais inovadoras e que criam mais valor proporcionam melhores condições de vida aos seus habitantes. Nos anos 90, por exemplo, 30% das empresas criadas em Silicon Valley – representando 70.000 empregos e um volume de facturação significativo – eram dirigidas por estrangeiros. Este facto permitia, ainda, criar pontes com outros centros de conhecimento no estrangeiro, alimentando a região. Se antes eram as pessoas que iam à procura de emprego, hoje são as empresas que vão atrás dos talentos. As cidades com maior capacidade de atracção e retenção da “classe criativa” seriam as vencedoras.

Este estudo defende, neste sentido, que o crescimento e o desenvolvimento económicos se baseiam em 3 Ts: Tecnologia (o elemento central, clássico), Talento (capital humano) e Tolerância (entendida como abertura a novas pessoas e ideias, “barreiras à entrada reduzidas” para pessoas).

O estudo foi alargado a 14 países da Europa mas está neste momento a trabalhar-se para avaliar cidades, tal como nos EUA. É possível verificar que em quase todos os indicadores Portugal está em último lugar. Isto tanto vale para indicadores de tecnologia (patentes, por exemplo) como de talento (formação da população, por exemplo) ou de tolerância (valores, por exemplo).

Outro dado péssimo é que entre 1995 e 2000 Portugal foi o único dos 14 países da Europa onde a classe criativa regrediu, sendo que o seu peso no total de trabalhadores era já à partida o mais baixo.

Boa leitura

Nota: O estudo completo está disponível AQUI

Post que eu gostava de ter escrito #1

O Conselho de Ministros do Barnabé.

Brilhante!

Discriminação positiva

A questão da discriminação positiva é, no meu entender, essencial na questão do caso Buttiglione. Como este conceito pode ter múltiplas leituras passo a explicar a minha.

A discriminação positiva justifica-se nos casos em que se pretende alterar uma situação de discriminação negativa prolongada e enraizada, como esta. Em situações “neutras” não faz, obviamente, sentido (os cidadãos que usam óculos, por exemplo, não são discriminados e por isso será desnecessário lutar pela sua maior aceitação na sociedade).***

Exemplos de discriminação positiva podem ser dados em grande número e muitos estão mais próximos que o que se pensa. Eu não concordo com todos eles, pelo menos quanto à forma adoptada.

1. Discriminação de género – No Partido Socialista as listas têm de incluir pelo menos 1/3 de mulheres.
2. Discriminação racial – Nos EUA a imposição de quotas para minorias étnicas é frequente.
3. Discriminação linguística I – Na Catalunha o governo regional impõe às estações de rádio e TV um número mínimo de horas de emissão em catalão, obrigatoriedade de emissão em catalão (para além do castelhano) dos filmes com mais que um determinado número de cópias, sendo o discurso político activamente “catalanista” e favorecedor da língua menorizada.
4. Discriminação linguística II – Em Portugal é obrigatória a rotulagem de todos os produtos em português.
5. Discriminação contra deficientes – Em muitos dos concursos para a Administração Pública em Portugal há um número de vagas reservado para deficientes.

A discriminação negativa pode, assim, ter origem social, histórica, religiosa, etc. (política, digamos) nos casos 1., 2. e 3. ou de mercado nos casos 3., 4. e 5. E para cada situação há que procurar as respostas que melhor se lhe adequem, minimizando os eventuais efeitos negativos sobre terceiros. A resposta é sempre de iniciativa política, como está bem de ver.

No caso da discriminação contra a orientação ou identidade sexual a discriminação positiva pode assumir várias formas: educação para a cidadania (levando a maior tolerância, portanto), educação sexual, discurso político positivo, maior visibilidade (exemplos são as séries de TV tipo Sete Palmos ou Anjos na América). A discriminação positiva não é, assim, “um incentivo a” ou “um benefício para”. Por discriminação positiva contra a homofobia entendo regularização de condições de igualdade de direitos para cidadãos com igualdade de deveres. Tenho dúvidas de que Buttiglione esteja (estivesse?) disposto a implementá-las.


*** Hesito em considerar discriminação positiva a tentativa de alteração de uma realidade neutra como nos casos em que se pretendem promover determinadas atitudes (as políticas ambientais podem ser um exemplo).

Coisas que vêm de trás

Numa das minhas postas anteriores manifestei a minha discordância relativamente a um editorial do Público. Enviei uma mensagem de correio electrónico ao director que teve direito a publicação e resposta na edição de ontem, dia 21 (obrigado pela informação MATS).

Em breve comentarei a questão da discriminação positiva (ou o que eu entendo por ela).

Ainda o caso Buttiglione

Escrevo a propósito do editorial [de 15-102004 de José Manuel Fernandes] sobre o pré-comissário (?) Buttiglione e a questão da homossexualidade.
Eu concordo com José Manuel Fernandes, quando diz que não se deve impor aos outros aquilo que consideramos mais correcto. E, se o senhor Buttiglione não gosta de homossexuais, isso é lá com ele. Acontece que a nós, homossexuais, nos é diariamente imposto aquilo que os "outros" consideram correcto. O nosso comportamento não interfere com a vida de ninguém; mas os "outros" interferem com a nossa vida. E de que maneira.


Se o senhor Buttiglione tivesse sido nomeado para comissário da Agricultura e Pescas, a questão não era tão grave. Mas foi-lhe atribuído o pelouro das liberdades e garantias.

Os homossexuais precisam de ser discriminados, mas discriminados positivamente. É necessário que à frente dos cargos de responsabilidade esteja uma pessoa com um discurso positivo e tolerante. Ora, custa-me muito a crer que alguém que considera a homossexualidade um pecado vá lutar pela sua aceitação - não pela promoção, como a reacção "anti-gay" ridiculamente proclama, mas pela aceitação; que veja os homossexuais como iguais, como cidadãos cumpridores de todos os deveres e merecedores de todos os direitos - tal como os outros. A melhor frase que encontrei para designar esta questão foi precisamente a de António Costa (PS), que disse: "É como nomear um pirómano para comandar o combate aos incêndios."

Quanto à questão da legitimidade eleitoral, essatanto existe por parte do Governo italiano para nomear um comissário, como por parte do Parlamento Europeu para chumbar uma Comissão. Temo é que as conveniências e acordos não o venham a permitir.

A discriminação, contra mulheres, "gays", transexuais, deficientes, imigrantes, pretos, amarelos e vermelhos continua a ser uma realidade. E, ou a combatemos activamente, ou nos conformamos. Espero que como director do mais importante diário português saiba estar do lado certo.

Miguel Pinto
Lisboa

E a resposta do JMF

N.D. - O ponto em que discordamos é transparente: eu acho que ninguém deve ser discriminado; na sua carta defende que os homossexuais devem ser discriminados positivamente. Agradeço-lhe ter dito alto o que muitos pensam, mas não assumem. J.M.F.

quinta-feira, outubro 21, 2004

Experiência de convergência

Experiência porque estou a tentar pôr no ar uma imagem.

Convergência porque esta imagem foi sacada de um artigo do survey do The Economist sobre a Irlanda que comentei anteontem.


Urgências

Ontem à noite fui ao Teatro Maria Matos ver o espectáculo "Urgências". São 7 peças curtas - bem escritas, bem interpretadas, bem encenadas - sobre relações humanas.

Em palco até 30 de Novembro. Informações em http://www.urgenciasteatro.blogspot.com/


quarta-feira, outubro 20, 2004

A Comissão e as Europas

A constituição da nova Comissão Europeia tem tido honra de destaque em muitos meios de comunicação social europeus. Por cá, como estamos longe, e porque o (des)governo da nação não nos dá descanso, não se tem falado tanto do assunto. Ora, a constituição da nova Comissão é interessante porque, entre outras questões, neste processo se confrontam as maneiras de estar de várias Europas.

O Comissário húngaro tem levantado reservas no Parlamento porque não percebe patavina da pasta de que deverá tomar conta, a Energia. Já a comissária holandesa (não estou seguro que seja esta) parece que percebe demais da pasta para a qual foi proposta. Tendo sido consultora de várias grandes empresas europeias há quem duvide da sua imparcialidade para assumir responsabilidades no pelouro da concorrência. E há ainda o caso Buttiglione.

Portugal, neste aspecto, é o mais europeísta de todos os países. Como todos nós sabemos, não perceber do assunto, ter interesses na área ou ser pouco tolerante com as opções dos outros nunca foi impedimento para se chegar a ministro em Portugal. Basta atentar no actual governo, nem vale a pena ir mais longe.

O Le Monde de hoje traz vários artigos sobre o processo de formação da nova Comissão Europeia. Aqui. Aqui. Aqui. E aqui. O Buttiglione é, claro, o caso mais gritante. Ficam excertos do currículo político da figura.

Mardi 5 octobre, devant les députés européens, M. Buttiglione appelle à la rescousse Emmanuel Kant pour mieux distinguer morale et politique. Il explique ainsi qu'"il peut très bien penser que l'homosexualité est un péché mais que cela n'a aucune influence sur le droit". De même, interrogé sur le mariage homosexuel, il répond que "la famille existe pour permettre à la femme d'avoir des enfants et d'être protégée par son mari". "Cela relève de la philosophie, non de la politique", précise-t-il.

En juin 2001, ministre du nouveau gouvernement Berlusconi tout juste formé, M. Buttiglione soutient la proposition de loi de son parti visant à remettre en cause la législation autorisant l'avortement. Il plaide pour le versement d'une allocation à chaque mère de famille. Le mois précédent, il avait été un des premiers à répondre à un appel de Jean Paul II saluant "le gouvernement ami" de M. Berlusconi. "Oui, nous défendrons la famille. La loi 194 (qui autorise depuis 1978 l'avortement) sera changée, mais l'abolir sera une longue lutte", écrit-il au pape. De même, il s'oppose farouchement à toute recherche sur le clonage thérapeutique.

En mai et juin 2000, M. Buttiglione concentre ses attaques sur la Gay Pride, une "provocation", juge-t-il, qui appelle "à la révolution sexuelle". Prônant une "attitude de compassion (OBRIGADINHOS) envers les homosexuels", il ajoute qu'elle doit s'accompagner d'une "condamnation de l'homosexualité, qui demeure un péché".

En novembre 1989, lors d'un conférence internationale sur le sida organisée par le Vatican, M. Buttiglione déroute son auditoire en expliquant que s'il ne pouvait être à proprement parler considéré comme un "châtiment de Dieu", le sida pouvait malgré tout être l'expression d'un châtiment. Selon lui, la maladie pouvait être d'une certaine manière considérée comme un signe de la présence de Dieu, la souffrance du malade devant avoir une signification positive, pour lui et la collectivité : la maladie n'existe que pour que la guérison puisse survenir.

Dès 1983, dans le Monde, Rocco Buttiglione récusait les accusations d'intégrisme : "Il ne s'agit pas de faire coïncider foi et politique, mais de juger la réalité en fonction de catégories morales."

Globalização?

Arroz de polvo à minhota com coentros!?!?

PS: Mas estava delicioso.

Outono/Inverno

Ontem ao fim da tarde, quando cheguei a casa...

.. dobrei e arrumei num gavetão t-shirts, camisas de manga curta, calças de verão, casacos de Primavera, calções. Pendurei no armário os sobretudos. Estava a adiar a decisão mas tinha mesmo de ser. Com tanta chuva lá fora nem custou.

Duas notas principais.

1. Consegui tirar 16 cruzetas do armário!!!
2. Preciso de ir às compras, fiquei com muitas cruzetas vazias. Falta muito para os saldos?

terça-feira, outubro 19, 2004

Economia e sociedade

Hoje encontrei três boas histórias sobre três situações económicas bastante diferentes. A primeira é sobre o declínio do antigo “coração industrial” americano. Algo nostálgica, está enquadrada num conjunto de reportagens do Le Monde sobre as eleições nos EUA. A segunda relata o cerco que o regime ditatorial cubano está a montar aos pequenos negócios privados (nomeadamente casas de hóspedes e paladares). Durante quanto tempo mais vai aquela pobre gente ter de aguentar com tanta repressão? E por que não os deixam preparar-se para a inevitável transição? De quem vão ser as culpas dentro de alguns anos? A terceira e última referência é para um artigo sobre o “milagre” irlandês e a sua sustentabilidade. Trata-se de um dos artigos de um survey do The Economist sobre a Irlanda. Os outros textos são a “pagantes” mas quem quiser mais informação que abra os cordões ao cartão de crédito ou a vá buscar à OCDE.

Capitale sinistrée de la sidérurgie, Pittsburgh se cherche un avenir
La population de la ville est revenue à son niveau de la fin du XIXe siècle. Le déclin a frappé la vallée de l'Ohio. De la Pennsylvanie à l'Indiana, voyage dans une Amérique-clé pour le vote du 2 novembre.

Cuba - Small business just got smaller
A new campaign against private enterprise comes as Cubans suffer from worsening water and power shortages


SURVEY: IRELAND The luck of the Irish
Surely no other country in the rich world has seen its image change so fast. Fifteen years ago Ireland was deemed an economic failure, a country that after years of mismanagement was suffering from an awful cocktail of high unemployment, slow growth, high inflation, heavy taxation and towering public debts. Yet within a few years it had become the “Celtic Tiger”, a rare example of a developed country with a growth record to match East Asia's, as well as enviably low unemployment and inflation, a low tax burden and a tiny public debt.

Junta-te a nós, ó clandestino!!

Um colega meu enviou-me por correio electrónico uma mensagem da UEPME – União dos Empresários das PME de Portugal. Seguem alguns excertos. A escola Jardim vai ganhando adeptos.

«Políticos, Sindicalistas, Juristas e Tribunais de Trabalho parecem estar juntamente interessados no “encerramento apressado” das PME dos sectores e áreas deprimidos»

A UEPME acredita que está a ser levado a cabo um “plano macabro” para encerrar rapidamente a maior parte das PME exportadoras de utilização de mão-de-obra intensiva, antes que possam beneficiar dos apoios de recuperação que o Governo aprovou. A UEPME prometeu há dois dias, no seu comunicado do dia 1 de Setembro, que iria descobrir como e quem está tão interessado em encerrar as empresas PME e pensa agora ter descoberto como funciona o “esquema”.

É do conhecimento público que nos primeiros seis meses deste ano as encomendas baixaram quase a zero em muitos sectores exportadores, especialmente no vestuário, couros, calçado e afins, e que as empresas economicamente mais débeis não conseguiram aguentar sem se atrasar no pagamento dos salários. Ora sabendo disso, políticos e sindicalistas sem escrúpulos passaram ao “ataque”. Vão para a porta das empresas procurando saber se os trabalhadores têm salários em atraso. Logo que disso têm conhecimento instigam aqueles que lhe dão ouvidos, a despedirem-se alegando justa causa. Então de seguida aparece em cena um advogado “super zeloso” que se encarrega de tratar de um processo judicial “muito rápido e eficaz” contra a empresa. No Tribunal de Trabalho este processo corre célere, para que a empresa não tenha “tempo de respirar, morra depressa e sem assistência”.

É obvio que com os meios de produção arrestados, meios de transporte apreendidos, recursos humanos diminuídos, as empresas já não têm capacidade para executar encomendas quando o mercado recupera, não podendo assim recuperar financeiramente, não tendo outra solução senão despedir o resto dos trabalhadores que estavam dispostos a salvar a empresa, restando-lhe depois encerrar definitivamente e para sempre as portas, que afinal, é o que este “ generoso grupo” quer e está a conseguir se o Governo não põe cobro a isto. Esperamos que o Governo tenha vontade, força e coragem para o fazer, pois é urgentíssimo, caso contrário arrisca-se a uma “saída de cena antecipada” o que não seria nada bom para Portugal.

A UEPME entretanto vai aconselhar os seus associados e todos os empresários dos sectores e áreas deprimidas em geral, a exigirem que o Governo, (como o pedem os agricultores quando o ano corre mal), decrete o estado de calamidade para as PME exportadoras nesta situação, estabelecendo indemnizações para que possam pagar os salários em atraso e reintegrar os trabalhadores que foram enganados. E que o Governo também peça aos Tribunais de Trabalho que pensem duas vezes no que estão a fazer às PME. Que pensem duas vezes, se querem afundar ainda mais a nossa desconjuntada economia ou se a querem ajudar a levantar.

NOVO CÓDIGO DO TRABALHO

Dezembro de 2003. Entrou em vigor o novo código do trabalho e o Senhor Ministro Bagão Félix na sua intervenção na Comunicação Social "previlegia" e "mimoseia" o patronato com ameaças. E querem estes senhores governantes que os estrangeiros invistam em Portugal!

segunda-feira, outubro 18, 2004

Estrumpfina

Ao longo da vida fui-me encontrando com pessoas cujos pais se haviam inspirado em figuras mediáticas para baptizarem os seus rebentos: ele há para aí Marcos Paulos, Elvis, Robertos Carlos, Ronaldos, tenho até uma amiga chamada Ágata, ainda que neste caso o baptismo tenha sido bem anterior ao surgimento do fenómeno musical (??). O caso mais engraçado até ao momento foi o de um senhor que apareceu no consultório da minha mãe e que respondia pelo nome de Rosamel. A inspiração? Roosevelt.

Mas hoje na aula de hidroginástica descobri que uma das colegas se chama ISALTINA MORAIS. Ora, como estamos em Oeiras, não será coincidência a mais? A Fátima Felgueiras pirou-se para o Brasil para escapar à Polícia Judiciária e eu pensava que o Isaltino se tinha pirado para a Suíça para trocar as voltas à comunicação social. Mas não, em vez de estar a conduzir o táxi com o sobrinho lá em genebra parece que o Isaltino Morais... virou Estrumpfina!!

Meda de lenha acima dos 55 dólares

A cotação da meda de lenha nos mercados internacionais ultrapassou ontem os 55 dólares em Nova Iorque, enquanto que o preço da lenha das florestas do Norte está perto de atingir este valor em Londres.

A instabilidade política em várias regiões do globo, o aumento da procura mundial e a chegada do Inverno estão entre as razões que contribuem para esta escalada de preços, temendo-se agora que a barreira psicológica dos 60 dólares e mesmo a barreira psicológica dos 70 dólares venham a ser ultrapassadas. Várias barreiras psicológicas, como a barreira psicológica dos 20 dólares, a barreira psicológica dos 30 dólares, a barreira psicológica dos 40 dólares e a barreira psicológica dos 50 dólares já haviam sido quebradas anteriormente.

O GALP (Grupo de Apanhadores de Lenha de Portugal) e a BP (Bolotas de Portugal) subiram ontem os seus preços de referência, custando agora o feixe de lenha de carvalho 1.01256 euros, o feixe de pinheiro 1.0002789532 euros e o feixe de eucalipto 0.8995487855447 euros.

Fonte: Agência Lusa em http://agencialusa.blogspot.com

sexta-feira, outubro 15, 2004

José Manuel Fernandes

Os editoriais do José Manuel Fernandes no Público são sempre... Bem, digamos que apenas concordamos quanto ao PSL (mas eu não tenho outros amigo no PSD, só mesmo os do emprego).
Aqui há uns meses atrás enviei uma carta para o director do Público e recebi uma resposta. Por uma questão de respeito não o voltei a contactar mais (tipo aquele pessoal que reenvia pornografia e insiste com as cadeias da sorte) mas guardei o endereço para uma ocasião "especial".

A ocasião "especial" foi provocada pelo editorial de hoje. Enviei um e-mail a cascar no JMF. A ligação para o editorial aqui.

quinta-feira, outubro 14, 2004

Ricochete

A fuga do Durão Barroso para a Comissão Europeia era apresentada em Junho como sendo muito positiva para o país. Eu sempre achei que a turbulência provocada cá nunca poderia compensar as eventuais "mais-valias" conseguidas por ter um tuga a ocupar um cargo que, em princípio, deve ser conduzido com imparcialidade. Acresce a isto que um senhor que era bastante mauzinho por cá, dificilmente poderia revelar grande competência em Bruxelas. Mas nunca se sabe, basta ver do que são capazes os emigrantes portugueses em França...

Passaram apenas quatro meses, não estando ainda o Fujão à frente da Comissão, e já começam as más notícias (em Bruxelas, porque aqui não foi preciso esperar tanto tempo, como é do conhecimento geral). Como a Comissão é aprovada em bloco pelo Parlamento Europeu e a rejeição pela comissão parlamentar especializada do comissário proposto por Itália não implica o seu afastamento (obrigado pelo comentário Molin), se calhar vamos mesmo ter de gramar com o Buttiglione à frente da pasta das liberdades e garantias.

Como bem dizia o António Costa (PS) num destes dias, é como ter um pirónamo a comandar o combate aos incêndios. Atendendo à situação calamitosa que se viveu nas florestas portuguesas em 2003 e em parte de 2004 (depois começou a chover) parece-me que o Fujão tem jeito para a coisa...

O boomerang foi para Bruxelas em Junho, mas o ricochete chega agora a toda a Europa e não apenas a Portugal...

A notícia completa aqui.

Sete

Dá até vontade de dizer: que grande equipa tem o Liechtenstein!

quarta-feira, outubro 13, 2004

As Eleições Americanas - Bibliografia

A poucas horas do último debate da corrida presidencial, onde se volta à fórmula mais formal de 90 minutos de perguntas feitas por um moderador conceituado (formato semelhante ao do primeiro debate, onde Kerry se sente bastante mais à vontade que Bush), aqui ficam dois links interessantes:

Questions for Bush
David K. Shipler, Alice M. Rivlin and Alan Ehrenhalt present questions they would ask President Bush at Wednesday's presidential debate.

Questions for Kerry
Charles Murray, Christie Whitman and Stephen L. Carter present questions they would ask John Kerry at Wednesday's presidential debate.

Deixo também o link para a interessante cobertura da campanha do New York Times e para o artigo sobre os concertos do Vote for Change.

in TOLERÂNCIA

No passado dia 6 de Junho a Mairie de Bègles, em França, celebrou um casório entre um casal gay. Receberam 4.000 cartas de protesto que deram origem a um livro. Aqui fica no tícia do Le Monde.

Un rugbyman publie les courriers d'insultes adressés à Noël Mamère après l'union homosexuelle de Bègles

LE MONDE 12.10.04 13h47

"Donner à voir" l'homophobie. Brutalement, telle qu'elle s'exprime tous les jours. Serge Simon, ancien international de rugby et proche de Noël Mamère, a vécu en direct ce vent de violence verbale, lors de la cérémonie médiatisée de mariage d'un couple homosexuel le 6 juin à Bègles (Gironde), où le député Verts est maire.

Il a retrouvé cette "haine inouïe" dans les messages des opposants au mariage, aperçus par hasard sur un bureau de la mairie. Des courriers adressés à M. Mamère, alignant crûment insultes, propos graveleux et humiliants. Un dîner entre amis, "la quarantaine bobo", a achevé de convaincre M. Simon que l'homophobie n'était pas l'apanage des skinheads ou des intégristes, mais se vivait aussi tranquillement, chez les "gens bien".

L'ancien international de rugby s'est plongé dans les quelque 4 000 messages reçus par l'élu. Le résultat se lit dans un album : Homophobie 2004 France reproduit en fac-similé lettres, fax, dessins et photos envoyés par des correspondants anonymes (ou anonymisés), venant de tous horizons politiques et de toutes classes sociales.

L'ouvrage s'ouvre sur des messages où la prose fasciste s'assume. S'affichant avec force croix gammées et références nazies : "Voilà trois PD que Hitler, s'il était encore là, aurait passé par la cheminée", proclame l'un, en marge d'une photo montrant le couple au côté du maire. Un autre s'est illustré par un graphisme en escargot pour décliner, autour d'une croix celtique, les qualificatifs dont il gratifie "Monsieur le Maire, Mamaire", fautes d'orthographes comprises : "pédé, enculé, deculé, debité, salopart, abrutis, connard". Mais ces missives d'extrême droite sont peu nombreuses.

La plupart sont celles de M. ou Mme Tout-le-Monde. Certains jouent sur le registre scatologique. Une feuille de papier toilette rose est ainsi offerte pour que l'élu "se nettoie l'anus après sodomisation des mariés du 6 juin". Une autre a assorti sa lettre d'excréments humains.
Quelques rédacteurs ont tenté l'humour de vestiaires. L'un présente un calendrier de rugby à Bègles - "ville de pédés en France" - pour la saison 2004-2005, annonçant des matches "Bayonne-pédé", "pédé-Brives", "Agen-pédé". Un autre interroge : "Savez-vous lequel des deux va enculer l'autre ?" Plusieurs demandent une cérémonie zoophile pour les marier à leur "chienne Mirza" ou à leur "petite chèvre".

Certains préfèrent se targuer d'une sympathie passée. "Je vous ai côtoyé il y a longtemps, vous êtes sympathique", explique l'expéditeur d'une carte postale pour mieux asséner son verdict : "Homo, c'est contre nature, c'est anormal, c'est grave, c'est une maladie psychique."
Des électeurs Verts se démarquent tout aussi violemment de l'initiative de l'élu. "Dorénavant, je voterai autrement, car vous êtes tous des PD, des tapettes et des dépravés. Les animaux sont dix fois plus intelligents que les homosexuels. (...) Est-ce que vous avez vu un mâle lion enculer un autre mâle lion ?", interroge un courrier écrit sur des lignes préalablement tirées au crayon. Un autre, plus direct, lâche : "Viens me voir et baisse ton froc, salope, dégueu."
A la lecture de certains courriers, on comprend la peur qui a pu s'installer parmi les collaborateurs de M. Mamère. "Je prépare un gros godemiché pour toi, en fil barbelé", prévient l'un. "Si tu oses marier deux pédés, c'est toi que nous enculerons vivant", assène un second. "A mon avis, un 22 LR long rifle serait plus efficace que la menace de Raffarin", écrit un correspondant du Puy-de-Dôme.

Une haine que le rugbyman veut dénoncer. "J'ai découvert un phénomène d'éructation que j'étais loin d'imaginer. J'ai voulu rendre cette haine visible et tenter de faire baisser le seuil de tolérance à l'homophobie quotidienne."
Sylvia Zappi

• ARTICLE PARU DANS L'EDITION DU 13.10.04

Já agora o link aqui

terça-feira, outubro 12, 2004

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DEPUTADO
Ex-militante do PSD ofereço-me para qualquer partido de esquerda. Não sou como o Tino de Rans, sei falar e atacar. Cansado deste maldito desgoverno de 2 anos e meio. Aos jornalistas pergunto: vamos reeditar o Jornal do Medo, Actualidades, Barricada do qual fui colaborador no tempo do Salazar? Estou pronto mesmo sujeito à A.A.C.S., PIDE, censura ou outros
Cartas ao jornal Público ao n.º 1/2391

Isto vinha na página 51 (suplemento Local Lisboa) do Público do passado Sábado. Mais alguém reparou ou fui só eu? Vinha lá num cantinho, mesmo em baixo.
Este governo é prejudicial para a Saúde Pública. Os hospitais psiquiátricos começam a encher. Fragatas para São Bento já!

Obrigado Europa!

Lembro-me de há dois anos, quando vivia em Paris, ter tido uma conversa sobre a União Europeia com o meu chefe franciú. O homem queixava-se de que a União Europeia estabelecia critérios mínimos muito abaixo daqueles a que França estava habituada e parecia-lhe ver um retrocesso em muitos domínios, nomeadamente os sociais. Eu comentei que no caso português era precisamente o contrário. Graças à União Europeia (às imposições da União Europeia) o país tinha-se visto obrigado a adoptar legislação mais avançada que a existente em várias áreas. Coisas que aqui eram consideradas "de esquerda", "progressistas" ou mesmo "anti-económicas" eram para os outros países o mínimo a que estavam dispostos a descer.

Hoje o Público traz uma boa notícia para todos nós, cidadãos da União Europeia. Afinal vale a pena ir votar nas Europeias...


Italiano indigitado fez declarações controversas sobre homossexuais e família
UE: comissão rejeita nomeação de Buttiglione para pasta da Justiça

Reuters,
PUBLICO.PT

A Comissão de Liberdades Cívicas do Parlamento Europeu rejeitou hoje a nomeação do italiano Rocco Buttiglione como comissário da Justiça, Liberdade e Segurança da futura Comissão Europeia, presidida por Durão Barroso. O responsável indigitado proferiu recentemente declarações controversas sobre homossexuais e família.“A rejeição... significa a recusa da nomeação do senhor Buttiglione”, afirmou o deputado liberal francês Jean-Louis Bourlanges, depois da votação negativa da figura mais controversa da equipa escolhida por Durão Barroso para a futura Comissão Europeia.Rocco Buttiglione, actual ministro italiano para os Assuntos Europeus, do Governo chefiado por Sílvio Berlusconi, dividiu na semana passada a comissão, que rejeitou hoje a sua nomeação, quando considerou perante esta a homossexualidade como "um pecado" e defendeu que a família "existe para permitir à mulher ter crianças e ser protegida pelo marido".As suas posições causaram na altura incómodo entre os membros da comissão encarregada de avaliar a sua candidatura. E o presidente do Parlamento Europeu, o espanhol Josep Borrel, classificou as suas declarações como “chocantes”.Na altura, os eurodeputados do Partido Socialista Europeu também se manifestaram contra as afirmações do comissário italiano indigitado para a Justiça, classificando-as como “abaixo dos padrões europeus dos direitos das mulheres, homossexuais e leis da discriminação".

The Budget, Episode I

Depois de ser atacado por todos os lados por passar a vida a soltar medidas disparatadas à saída do Metro, ou antes de entrar na casa de banho do Colombo, e que são desmentidas pelos seus Ministros nas semanas seguintes, Santana decidiu fazer o mea culpa e corrigir a estratégia.

Assim, por conselho do Secretário-Geral do PSD, Miguel Relvas, que considera que o Primeiro-Ministro não deve falar com os políticos (essa classe de energúmenos), Santana resolveu adoptar um estilo mais formal e dirigir-se à grande família que é Portugal olhos nos olhos numa comunicação oficial, onde desenrolou o habitual chorrilho de disparates (sim... parece que nenhum dos dois percebeu que a crítica não era só aos disparatados sítios onde Santana anunciava as medidas, mas, sobretudo, ao facto de anunciar medidas que não discutiu com os Ministros e cuja viabilidade desconhece).

E assim fez, ontem, uma semana antes da apresentação do Orçamento de Estado para 2005, numa espécie de ante-estreia do mesmo. Tranquilamente afirmou (segundo leio, porque não tive o prazer de assistir à familiar conversa) que vai baixar impostos, subir salários e pensões, aumentar o investimento público e cumprir o objectivo do défice, não ultrapassando os 3%. Será que foi assim que Bagão, que anunciou o contrário há algumas semanas, escreveu o argumento do dito, ou estaremos na presença de um "Orçamento de Estado 2005 - Director's Cut"?

Isto, claro, depois de ter dito a mesma coisa nos Açores, em plena campanha eleitoral... Aliás, o Orçamento de Estado só será divulgado depois das eleições nas Regiões Autónomas, o que dá para desconfiar um bocadinho...

Entretanto, os diversos Ministros, que ontem à noite devem ter estado todos coladinhos à TV, a roer as unhas nervosamente, tentando antecipar quem seria desta vez o entalado, devem estar desde as 7h00m da manhã a fazer contas furiosamente para analisar a (in)viabilidade das medidas anunciadas e a desmultiplicar-se em esforços por arranjar tempo de antena para desmentir com cuidado (mas em directo) as promessas do Desbocado.

É assim possível que o Orçamento de 2005, a apresentar na Assembleia na próxima semana, seja outra coisa qualquer que não o que foi dito. Mas, se for, quem é que vai estranhar?...

P.S.1. Uma outra dúvida assalta-me o espírito: porque é que vamos fazer para o ano um referendo sobre um Tratado (o Tratado Constitucional da União Europeia) que vamos assinar este ano?

P.S.2. Se algum dos concorrentes da Quinta das Celebridades tiver que abandonar a quinta, não seria possível forçar o Santana a meter 30 dias de férias e metê-lo lá a ordenhar vacas?

sexta-feira, outubro 08, 2004

Governo frequenta mestrado de maoísmo no ISEG ou... A verdadeira história do caso TVI/Marcelo

O XVI governo constitucional, ou governo do Pedro Santana Lopes (PSL) está a frequentar uma edição especial do mestrado em “Economia e Maoismo” leccionado no ISEG. O coordenador, Garcia Pereira, teve de iniciar o ano lectivo excepcionalmente em Junho, devido à súbita mudança da equipa governativa, pelo que ficou impedido de passar as férias de Agosto no seu iate no Algarve.

A criação deste mestrado – que esvaziou o MBA leccionado pelo mesmo instituto – deve-se a um acordo secreto entre PS e PSD assinado em 1997 e que compromete os primeiro-ministros de ambos os partidos a terem uma experiência passada ou presente de militância no campo político oposto com o intuito de aumentar a visão e a experiência políticas. Assim, Guterres era um católico direitoso apesar de ser do PS e Durão Barroso ostentava um cinzentão passado maoísta, apesar de eleito nas listas do PSD. Pelo mesmo caminho vai José Sócrates, futuro PM de Portugal, recrutado à JSD. Já Santana Lopes havia militado apenas no MIRN, um movimento de extrema-direita criado após o 25 de Abril, pelo que não cumpria com os requisitos básicos. Restava-lhe então transferir-se para o PS ou fazer um curso de reciclagem, solução pela qual o actual PM mais a sua pandilha optaram. O mestrado de maoismo do ISEG foi a solução escolhida.

PSL tem-se revelado um aluno aplicado e nutre uma especial simpatia por Ribeiro Santos, estudante do MRPP assassinado pela PIDE nas instalações do ISEG em 1973 durante uma reunião de estudantes na qual Durão Barroso também estaria presente (ainda que escondidinho). PSL planeia substituir as estátuas de Sá Carneiro no Areeiro (em Lisboa) e na Praça Velasquez (no Porto) por um mega busto de Ribeiro Santos, “injustiçado e esquecido por 30 anos de democracia burguesa”, declarou.
Outra das medidas de PSL é recuperar a denominação PCTP, caída em desuso em detrimento de MRPP, tal como havia já recuperado a de PPD no PSD. “Sou um herdeiro do Ribeiro-Santismo e sou fiel ao espírio trauliteiro do Partido Comunista dos Trabalhadores Portugueses”, afirma.

PSL encontra-se neste momento a desenvolver a dissertação de mestrado intitulada “Esbirros fascistas na comunicação social portuguesa: estratégia de reconhecimento e aniquilamento”, coordenada por Maria José Morgado que se queixa, contudo, de que “já é a 48ª vez que o raio do rapaz muda o título da dissertação”.

Ao que foi apurado a barafunda desta semana com o caso TVI/ Marcelo deve-se em grande parte ao chumbo generalizado à disciplina de “Ditadura do Povo: métodos de combate” provocado pelas alterações na cúpula dirigente dos principais inimigos do MRPP (aliás PCTP), os social-fascistas do PCP. Na verdade, quando parecia solucionada a crise provocada pelo facto de nos arquivos da AEISEG só haver sebentas amareladas com a biografia do “inimigo social-fascista a abater” Álvaro Cunhal, ultrapassada quando uma das alunas se dispôs a elaborar uma biografia do burguês Carvalhas, eis que o PCP decide substituir este último pela “caricatura pimba do operário” Jerónimo de Sousa. Isto tudo na véspera do exame! Até a Benilde teve pena deles... (piada privada). PSL decidiu passar imediatamente ao trabalho de campo para a elaboração da sua dissertação com o objectivo de iludir os camaradas professores e “passar com distinção”. Ana Gomes, destacada militante socialista, confessa-se admirada e lamenta que no seu tempo “não houvesse oportunidades destas, com aplicação prática, na governação efectiva do país, dos interessantes conhecimentos teóricos aprendidos”.

Garcia Pereira, o seu amigo do Instituto de Meteorologia e Alfredo Pequito (Bayer) manifestaram grande contentamento por o Movimento de Reorganização do Partido do Proletariado (agora mais PCTP que MRPP) continuar a bombar e a lançar a confusão na vida política portuguesa apesar da baixa representação eleitoral (“Os velhotes analfabetos do Alentejo confundem os símbolos e votam no PCP em vez de o fazerem no PCTP-MRPP, coitados!”, desabafa Garcia Pereira”). Regozijam-se ainda com o facto de a estratégia delineada há 30 anos atrás estar a resultar na perfeição, afirmando Garcia Pereira “Estamos na Comissão Europeia, no Governo, no PS, nos tribunais, na TV, mil amanhãs vermelhos cantarão para o PCTP-MRPP”

O Caso do Prof. Endemonizado

Antes de eu ir de fim-de-semana, as crónicas dominicais do professor eram um must da política espectáculo nacional.

À imagem do que acontecia quando o professor dava notas na rádio, toda a gente que é gente ouvia o mestre opinar sobre tudo e mais alguma coisa, com o à vontade e a leveza que lhe são tão característicos.

Durante umas dezenas de minutos o homem lá discorria sobre o Governo, a oposição, a economia mundial, o desporto, a cultura, a ciência, etc.

Aquilo parecia mesmo o Expresso e todos os seus cadernos, mas numa variante em que fosse qual fosse o tema não havia notícias mas apenas editoriais.

Era uma espécie de artista de casamentos e baptizados, que com a sua flauta punha todo o país a dançar. E era uma opção editorial óbvia, num projecto tablóide como é o Jornal Nacional.

Mas isto foi antes de ir de fim-de-semana...

Quando voltei, assisti a um Ministro de Bolso, com um ar assustado e ligeiras semelhanças faciais com o Pateta afirmar alto e bom som que o ex-presidente do seu partido e mestre-escola da nação proferia afirmações de ódio, mentiras e falsidades todas as semanas, relativamente à sua turma de bons-samaritanos.

Diz-se que disse também que o Prof. tem um complot com um semanário, um diário e uma TV para derrubar este Governo de iluminados.

E tudo isto porque, ao fim de 4 anos e meio, o iluminado ministro descobriu que a Marcelo falta o Contraditório.

Eu até acho compreensível que um Ministro que faz parte do Governo do Contraditório se sinta confundido quando este falta. Senão vejamos:

  • O Primeiro-Ministro anuncia medidas para os próximos anos de cada vez que vê uma câmera; essas medidas são normalmente relativizadas pelos Ministros nas horas seguintes - é o Contraditório;
  • O Secretário de Estado dos Transportes anunciou benefícios fiscais para quem compra o passe social; o Ministro das Finanças disse que isso era uma loucura e que tinha custos inimagináveis - é o Contraditório;
  • O actual Governo assumiu funções porque não era mais que uma substituição a meio do mandato; logo nos primeiros dias, Morais Sarmento (membro de ambas as versões do Governo) afirmou que não podiam fazer determinadas coisas devido à pesada herança deixada pelo elenco anterior - é o Contraditório;
  • Nos primeiros dois anos os critérios de convergência eram para seguir à risca, pelo que não se podia aumentar salários; este ano deve haver um esforço por cumprir, mas só um maluco é que pode tentar cumpri-los obsessivamente - é o Contraditório.

E podia continuar com estes exemplos a noite toda, mas começa a tornar-se aborrecido...

A situação, já de si, é bastante patética, no entanto, ver que o Telejornal da RTP, entre as 20h e as 20h30m não falou de mais nada; ver que nos vários canais os debates se sucederam durante toda a noite; ver figuras como Dias Loureiro dizer que a pluralidade do PSD se via pelo facto de o Prof. ainda ser do PSD; ver Pires de Lima com o sorriso cínico de sempre dizer que quem quiser afirmar que o Governo exerce pressão sobre os orgãos de comunicação social tem que provar o que diz ou então calar-se; ver 3 partidos da oposição aos saltos de contentamento por terem um filão para explorar, facilmente entendível pelo povo e que lhes permite estar uns dias sem falar de coisas complicadas; etc.; tudo isto torna a situação absolutamente deplorável.

Os factos são simples: o Prof. acusou; o Governo replicou; a TVI reuniu com Marcelo e este demitiu-se dizendo que acabava ali uma participação de 4 anos e meio, durante os quais pôde expressar livremente a sua opinião.

Estes são os factos e são estes factos que devem ser explicados e analisados, de forma a que se possam tirar ilações - em primeiro lugar o membro do Governo, ou o Governo como um todo devem provar a existência de falsidades e, sobretudo, o tal complot (porque é do lado do Governo que está o ónus da prova); Paes do Amaral deve explicar porque é que solicitou uma reunião com Marcelo; Marcelo deve explicar porque é que decidiu acabar com a sua crónica.

Isto deve ser explicado junto dos orgãos competentes (a AACS ou uma eventual Comissão de Inquérito) e os media devem cobrir o facto. Não deve ser explicado aos media (que, não esqueçamos, são um dos vértices deste triângulo) forçando os orgãos competentes a investigar com base no que lêem.

Era bom que, já que todos os anos se desperdiça metade do tempo disponível para reestruturar o país em fait-divers variados, pelo menos se aproveitassem esses fait-divers para mostrar seriedade na sua abordagem e resolução, de forma a desincentivar o aparecimento de novas futilidades.

E acho que já perdi tempo demais a falar disto, que apesar de ser potencialmente um problema grave de limitação à liberdade de expressão e à autonomia editorial dos orgãos de comunicação social, não pode ser um problema que concentre todas as energias do país durante dias a fio. Se calhar poderia ser encarado assim na Noruega, ou na Finlândia, mas não num país com tantos problemas estruturais graves para resolver e que está a passar por um período de total desgoverno!

Assim, esforçar-me-ei ao máximo por evitar este assunto daqui para a frente.

Nota - não esquecer que eu não gostava do formato da rúbrica do Prof., não gosto do que é o projecto da TVI e não gosto do actual Governo. Sou portanto totalmente independente nesta questão. Para mim, a solução mais cómoda para o embróglio seria uma decisão na melhor tradição salomónica - acaba-se com o programa do Prof., dissolve-se o Governo (e a Assembleia também, não vá o Presidente aceitar um terceiro elenco sem eleições) e vende-se a TVI!

Sócrates

Uma breve nota sobre a Grande Entrevista com José Sócrates na semana passada (vem fora de prazo, mas não tive tempo antes).

Ao contrário do que esperava, até gostei de ouvir.

O início foi confrangedor: Sócrates sabia o que queria dizer e apesar de as perguntas não serem o que ele queria, despejava as respostas que lhe apetecia...

No entanto, com o avançar da entrevista, Sócrates despejou o que queria despejar e começou a falar mais livremente.

E foi aí que deixou alguns sinais interessantes, nomeadamente ao nível dos princípios:
  • O entendimento de que os problemas com o sector público existem, mas que a resposta aos problemas não é acabar com o Estado, mas sim reformá-lo, defendendo o modelo social europeu;
  • O Conhecimento, a Ciência, a Qualificação, a Inovação e as Tecnologias como centro de um projecto tendente a requalificar e reestruturar a sociedade e a economia portuguesa;
  • O entendimento de que o Estado em matérias da esfera do social (como o aborto, a homosexualidade, etc.) deve dar um passo atrás e deixar espaço à individualidade (embora, obviamente, não se alheando dos problemas).

Se é verdade que tudo isto é muito vago e genérico e que tudo parece muito neo-guterrista (incluido as Novas Fronteiras, que não parecem tão novas quanto isso...), também é verdade que, apesar da clara atracção pelo poder, Sócrates é menos conservador que Guterres.

Reservo-me assim o direito de esperar para ver, sem grandes ilusões, mas com alguma esperança de que pelo menos nestas áreas algumas propostas concretas interessantes possam vir a surgir.

O Sigilo

Foi hoje (ontem, que já passa da meia noite...) apresentada à imprensa a iniciativa que visa a recolha de 35 mil assinaturas que permitam a apresentação de um projecto de lei, cujo artigo único pretende conceder à administração tributária o acesso às contas bancárias "para a fiscalização da compatibilidade entre os movimentos e operações das instituições financeiras e as declarações fiscais dos contribuintes".

Infelizmente, o país anda ocupado a discutir assuntos mais importantes para o futuro de todos nós, como se o Marcelo fez uma jogada política ou se fez birra e se o Castelo Branco é maluco ou só faz que é...

Quando o país estiver mais descontraído tentaremos abordar algumas questões relativas a este tema e à cláusula a introduzir no decreto-lei, cujo objectivo, nas palavras dos seus promotores "é permitir a verificação da informação fiscal e bancária sob segredo profissional" - gostávamos de discutir nomeadamente até que ponto isto não está já coberto pela actual lei e o que vem esta cláusula alterar a nível operacional.

P.S. Eu sei que no caso Marcelo estamos a falar de uma potencial limitação à liberdade de expressão que não deve passar em claro, no entanto, está-me a parecer que estamos a exagerar um bocado na insistência... abordarei isso no próximo post.

quinta-feira, outubro 07, 2004

A nova geração

Durante muito tempo a nova geração de “políticos” era sebastianicamente esperada como a única solução para Portugal poder sair do atoleiro em que aparentemente estava. Aparentemente, porque parece que agora consertaram a marcha-atrás.

Mas esta “nova geração” (Santana, Mexia, o meu amigo Morais Sarmento e outros que tal) conseguiu dividir o PSD e de que maneira!! Os mais-velhos começaram a demarcar-se dos mais-novos. Começou logo em Junho com as recusas de alguns ministros como a Teresa Gouveia ou a Ferreira Leite em participarem no novo governo e o pé-de-vento feito, entre outros, pelo Pacheco Pereira, pelo Marcelo ou pelo José Manuel Fernandes (uma petite provocação). Já se lhe vieram somar o Marques Mendes e, hoje à tarde, o Cavaco.

Os coitados dos mais-velhos não querem ficar colados à imagem destes tipos mais-novos mas parece-me que o PSD não volta a ganhar eleições antes de 2010 (ou 2014, aqui já depende do Sócrates) e nessa altura os mais-velhos já devem ter arrumado as botas a um canto. Excluem-se o Cavaco e o Marcelo, que pretendem ir para Belém antes disso.

Afinal, como é que se vai fazer a tal “transição geracional” no PSD? Quem vem aí? A JSD? Não se pode saltar mais um bocado?

Nunca apreciei por aí além o PSD mas isto preocupa-me. Eu não gosto de arrogantes. Mas trapaceiros, incompetentes e pessoas de mau carácter no governo do meu país é que se dispensam mesmo.

Mar Adentro, ou Um Olhar Sobre a Eutanásia

Aproveitando o fim de semana em Espanha, fui ao cinema ver Mar Adentro, o novo filme de Alejandro Amenábar (o mesmo que fez Tesis, Abre los Ojos e The Others).

É um filme biográfico sobre Ramón Sampedro (o homem que esteve mais de 30 anos agarrado a uma cama e que queria morrer mas não se conseguia matar), cuja história todos acompanhámos, na imprensa ou na TV, em documentários ou em debates, sempre com a eutanásia como pano de fundo.

Este é um tema obviamente complexo, que se enquadra, na minha opinião, naquela esfera que o Estado deve observar atentamente, mas deixar espaço aos indivíduos para tomar as suas decisões.

Ao longo de todo o filme, a opinião passada é também esta. No entanto, não o faz de ânimo leve nem com argumentos do género «a vida é minha e eu faço o que me der na cabeça com ela!». Fá-lo com cuidado e com consciência das implicações que o tema tem.

Ilustrativo disso é a figura do pai de Ramón Sampedro, que passa meio filme aparentemente alheado do tema (umas vezes aproveitando as defesas que o princípio de senilidade lhe oferece, outras mostrando que já percebeu mas prefere que pareça que não) e que quando menos se espera, a meio de uma discussão sobre os procedimentos jurídicos a seguir entre os advogados e a cunhada e o sobrinho de Ramón, se sai com esta:

«Lo único peor que se te muera un hijo es que tu hijo quiera morirse!»
[citado de memória, logo provavelmente mal citado... mas a idéia é esta]

E no entanto, ajuda-o sempre a avançar com a sua vida como ele pretende.

O filme é bom, apesar de ser totalmente diferente daquilo que estamos habituados a ver em Amenábar. Ele próprio afirmou ser o filme que mais gostou de fazer. Em minha opinião, não é seguramente o melhor filme que fez (porque é uma biografia e porque Abre los Ojos e Tesis são fantásticos), mas espero que tenha o mérito de reavivar a discussão sobre o tema.
Post Scriptum: Frase citada de memória na mesma, mas corrigida por nativa - «Lo único peor a que se te muera un hijo es que quiera morirse»; falhei por pouco! :D

Consta, de fonte bem informada, que foi um momento de gargalhada geral nas redacções do país

«o governo nunca condicionou nem tentou condicionar qualquer órgão de comunicação social»

Morais Sarmento, ministro da presidência

Nota: posta publicada a pedido de terceira pessoa

Nota minha: a santanette de serviço aqui da empresa acha que a culpa de tudo isto é do Marcelo e argumenta qualquer coisa com o princípio do contraditório... Ele há gente! A maioria dos colegas acha que a direita não se vai conseguir refazer durante muitos anos com este "desbaratar" do capital político acumulado por Cavaco Silva. A cor predominante por aqui é o laranja, para que conste.

quarta-feira, outubro 06, 2004

A do Salazar não era a brincar...

Opinião de Manuel Braga da Cruz sobre o Salazar (recordo: o tal que será reempossado hoje como reitor da Universidade Católica Portuguesa).

"Foi um grande estadista, reuniu grandes paixões e grandes oposições. Formado num tempo de crises da democracia, nunca partilhou os valores da democracia, mas governou Portugal com grande preocupação de interesse nacional. Não tenho particular simpatia política pela sua figura, mas foi um grande estadista português."

Salazar foi, de facto, um grande estadista sempre preocupado em governar Portugal com grande preocupação de interesse nacional. A não ser...
- ter-nos metido numa guerra colonial com 3 frentes;
- ter conseguido fazer com que metade da população activa emigrasse para fugir da miséria reinante;
- não ter aprendido com as descolonizações de outras potências europeias e ter esticado a corda até ao limite, com as consequências conhecidas;
- ter limitado as liberdades individuais, políticas, associativas...;
- ter mandado matar e torturar a oposição, nomeadamente Humberto Delgado;
- ter deixado uma estrutura económica obsoleta, controlada por algumas famílias cujos interesses não eram (são?) exactamente os mesmos do país no seu conjunto;
- ter deixado o país sub-infra-estruturado;
- ter deixado uma população analfabeta;
- etc, etc, etc.

Mas pronto, deixou ficar muito ouro nos cofres, honra e respeitinho!!! Os comunas depois é que estragaram tudo, já se sabe.

A do Salazar vem já a seguir...

Entrevista de Manuel Braga da Cruz, que será reempossado hoje como reitor da Universidade Católica Portuguesa, ao Público de Segunda-feira passada.

(...)
P. - As prescrições devem regressar?
R. - Absolutamente, assim como a penalização em termos das propinas. Há que assinalar outro facto que tem sido muito falado e que ninguém tem a coragem de denunciar: hoje, em todas as cidades universitárias de Portugal, existe uma autêntica indústria da noite, que exerce uma fortíssima pressão sobre os estudantes universitários e é responsável por um clima de menor investimento no estudo e na aplicação em geral. Os poderes públicos têm de tomar medidas sobre os horários da indústria da noite.
P. - Isso significa restrições, como em estados norte-americanos, de fechar as discotecas às três da manhã ou não vender bebidas alcoólicas dentro do "campus"?
R. - Absolutamente, sou um defensor da intervenção dos poderes públicos para maior regulação dos locais de diversão.
P. - Mas estamos a falar de jovens adultos...
R. - Mas a verdade é que os pais se queixam cada vez mais. Tenho também ouvido queixas a muitos reitores. Famílias e instituições não são capazes de controlar a enorme pressão que é exercida sobre os jovens e que obviamente não favorece nem contribui para o sucesso escolar.
P. - Estão criadas as condições em Portugal para a sociedade aceitar esse tipo de restrições?
R. - Se o não fizermos, vamos pagar a factura de termos gerações, várias, que viram o seu período de formação afectado por factores como estes. Já tenho visto iniciativas no sentido de intervir. Pedro Santana Lopes formulou o desejo, enquanto presidente da Câmara de Lisboa, de intervir nesse sentido. (...)

Eu nem sou muito de sair à noite. A vida privada do Santana não me interessa uma pevide. Mas por favor, o que é feito da noção do ridículo???

sexta-feira, outubro 01, 2004

O Sigilo Bancário

Para irem preparando a discussão que tentarei lançar para a semana, aqui ficam:

- O Decreto-Lei e o Anexo

- A Iniciativa Legislativa de Cidadãos para abolição do segredo bancário e para a justiça fiscal

Estudem que eu vou de fim de semana alargado.

O Debate

Para quem, como eu, não viu, mas gostava de ter visto, aqui fica a transcrição.

Debt Relief Deal for Poor Nations Seems to Be Near

Serão boas notícias, ou só fogo de vista?

A Grã-Bretanha avançou com dois desafios nesta área:

1. Ofereceu-se para pagar 10% da dívida dos 32 países mais pobres ao Banco Mundial, ao Banco de Desenvolvimento Africano e outras instituições internacionais semelhantes, alocando 180 milhões de dólares anuais a este objectivo (aparentemente saídos do seu orçamento anual de ajuda ao desenvolvimento). Ao fazer isto, deixou ainda um desafio explícito aos restantes países desenvolvidos (nomeadamente aos do G-7) para os imitarem neste domínio.

2. Incitou o Fundo Monetário Internacional a reavaliar as suas reservas de ouro (claramente sub-avaliadas) e a usar essa reavaliação para cortar na dívida desses países. As reservas foram avaliadas a $40 por onça e hoje a cotação do ouro está em mais de $400 por onça. Estima-se que a reavaliação permitiria uma folga de 32 biliões de dólares.

Depois de Kerry se ter pronunciado favoravelmente relativamente a esta proposta britânica, também a actual administração norte-americana reagiu e anunciou que vai levar o assunto a discussão na reunião do G-7 que terá lugar esta semana.

Resta-nos portanto aguardar esperançosamente para ver no que dão estes acontecimentos.

"Because the poor cannot wait, we intend to lead by example by
paying our share of their payments to the World Bank and the African Development
Bank," Mr. Brown is planning to say. "We do this alone today, but we urge you to
use your moral authority to urge other countries to follow suit so that poor
countries can look forward to a future free from the shackles of debt.",

Gordon Brown, the chancellor of the British
Exchequer

"Grants and debt relief must be significantly
increased,'' he said. "We are considering more options to do so, including those
that would provide up to 100 percent debt relief and grants from the
international financial institutions.",

USA Treasury
Secretary, John W. Snow

"It has been done before, and, of
course, it could be done again.'',

Rodrigo Rato, the new
managing director of the I.M.F.

"an enormously constructive
suggestion.",

James D. Wolfensohn, the president of the World
Bank and one of the pioneers of debt relief

P.S. Para lerem os artigos têm que fazer o registo totalmente gratuito e compensador no NYTimes. Entre outras coisas permitir-vos-á ver o debate Kerry-Bush de ontem na íntegra, ler as opiniões de Paul Krugman e receber uma newsletter diária sempre interessante.

Os 3 R's: reduzir, reutilizar, reciclar

Alertou-me ontem o SFM para o facto de o Ministério da Ciência e do Ensino Superior ter, aquando da entrada do Pedro em São Bento, mudado de nome. A ministra manteve-se mas o Ministério passou a chamar-se da Ciência, da INOVAÇÃO e do Ensino Superior.

Proponho que os envelopes e as folhas timbradas com a denominação anterior sejam enviados para os hospitais SA onde não há dinheiro para comprar papel higiénico.

A bandalheira instituída

Dada a popularidade da minha posta sobre a bandalheira que Lisboa é - que atingiu um número recorde de comentários, muito devido à comparação com a situação no Porto -, não resisto a fazer mais uma achega ao assunto.

Ontem à noite, depois de sair do tal restaurante silencioso, descia a ruidosa Almirante Reis quando, por alturas do Chile, me deparei com um cartaz (colado na parede por cima dos do Bloco) que publicitava uma lojita qualquer de produtos biológicos.

Qual é a piada? Uma frase que dizia mais ou menos isto: "Possibilidade de estacionar em segunda fila".

Será que a tasca lá da minha rua também anuncia a "Possibilidade de estacionar em frente à garagem do prédio do Miguel 24 horas por dia"?

Afinal, para que serve a polícia em Lisboa?????

O silêncio não é democrático

Ontem à noite fui jantar a um restaurante tão silencioso, tao silencioso, tão silencioso, que até me senti mal. Ouviam-se os talheres, os sussurros, as pessoas que limpavam as beiças nos guardanapos...

Ainda não tinha acabado de mastigar e já estava a pedir a conta para sair.

Ufa...

A Tradição: Raízes e Sustentabilidade

Um grupo de cientistas fechou 5 macacos numa jaula, colocou no centro uma escada e, sobre ela, um cacho de bananas.

Quando um macaco subia a escada para apanhar as bananas, os cientistas lançavam um jacto de água fria aos que estavam no chão.

Depois de um certo tempo, sempre que um macaco tentava subir a escada, os outros enchiam-no de pancada. Passado mais algum tempo, já nenhum dos macacos subia a escada, apesar da tentação ser grande.

Então, os cientistas substituiram 1 dos 5 macacos. A primeira coisa que ele fez foi subir a escada, sendo rapidamente retirado pelos outros, que o surraram. Depois de algumas surras, o novo integrante do grupo desistiu de tentar subir a escada.

Um segundo macaco foi substituído, e passou-se o mesmo, tendo o primeiro substituto participado, com entusiasmo, na surra do novato.

Um terceiro foi trocado, e a história repetiu-se.

Um quarto e, finalmente o último dos veteranos foi substituido. Os cientistas ficaram, então, com um grupo de 5 macacos que, mesmo sem nunca ter tomado um banho frio, continuavam a bater nos que tentassem chegar às bananas.

Se fosse possível perguntar a um deles porque batiam em quem tentasse subir a escada, com certeza a resposta seria: "Não sei, as coisas sempre foram assim por aqui..."

Bom dia!

P.S. Obrigado E.M.