terça-feira, outubro 19, 2004

Economia e sociedade

Hoje encontrei três boas histórias sobre três situações económicas bastante diferentes. A primeira é sobre o declínio do antigo “coração industrial” americano. Algo nostálgica, está enquadrada num conjunto de reportagens do Le Monde sobre as eleições nos EUA. A segunda relata o cerco que o regime ditatorial cubano está a montar aos pequenos negócios privados (nomeadamente casas de hóspedes e paladares). Durante quanto tempo mais vai aquela pobre gente ter de aguentar com tanta repressão? E por que não os deixam preparar-se para a inevitável transição? De quem vão ser as culpas dentro de alguns anos? A terceira e última referência é para um artigo sobre o “milagre” irlandês e a sua sustentabilidade. Trata-se de um dos artigos de um survey do The Economist sobre a Irlanda. Os outros textos são a “pagantes” mas quem quiser mais informação que abra os cordões ao cartão de crédito ou a vá buscar à OCDE.

Capitale sinistrée de la sidérurgie, Pittsburgh se cherche un avenir
La population de la ville est revenue à son niveau de la fin du XIXe siècle. Le déclin a frappé la vallée de l'Ohio. De la Pennsylvanie à l'Indiana, voyage dans une Amérique-clé pour le vote du 2 novembre.

Cuba - Small business just got smaller
A new campaign against private enterprise comes as Cubans suffer from worsening water and power shortages


SURVEY: IRELAND The luck of the Irish
Surely no other country in the rich world has seen its image change so fast. Fifteen years ago Ireland was deemed an economic failure, a country that after years of mismanagement was suffering from an awful cocktail of high unemployment, slow growth, high inflation, heavy taxation and towering public debts. Yet within a few years it had become the “Celtic Tiger”, a rare example of a developed country with a growth record to match East Asia's, as well as enviably low unemployment and inflation, a low tax burden and a tiny public debt.

4 Comments:

Blogger Delfim said...

Estive em Cuba há cerca de oito anos e trouxe de lá (além da música, das paisagens, da imagem de uma Havana fantástica, do rum e dos puros) a ideia de como os cubanos viam o seu regime. Ideia criada com conversas quase sussurradas, porque a polícia política era bem real!

Os mais velhos ainda se lembravam bem do regime anterior de Fulgencio Batista que, segundo eles, tinha transformado Cuba num autêntico prostíbulo dos americanos. Achavam que a revolução era necessária na altura mas passado todo este tempo a vida não estava fácil e portanto era necessário 'repensá-la'. No entanto, diziam eles, qualquer regime cubano teria sempre dificuldades perante um bloqueio económico como o existente, imposto pelos americanos.

Os mais novos eram menos compreensivos. Não gostavam nada do regime de Fidel Castro, achavam que passavam fome por sua causa mas ... também devido ao bloqueio económico americano!

Por mais paradoxal que pareça, a verdade é que o bloqueio americano ajudava a suportar o regime de Fidel Castro!

Estou em crer que terminando o bloqueio, Fidel cai.

Entretanto quem vai aguentando na pele o regime, o bloqueio, a falta de água, a falta de luz e a falta de comida são os cubanos.

PC

10:58 da manhã  
Blogger JTF said...

Concordo em absoluto. O bloqueio americano, nesta fase é benéfico para Fidel.

No entanto, há uma coisa em Fidel que me espanta. Ao contrário da maioria dos ditadores, Fidel parece-me ser querido pelos seus (é o que eu intuo das histórias que me conta quem lá vai), que consideram que ele é bom, mas que anda enganado...

Recentemente, o bloqueio americano foi agravado: as divisas enviadas pelos cubanos no exterior para os seus familiares (que eram totalmente livres) foram limitadas a alguns dólares por semana e só para familiares directos. Isto, obviamente, retira muita liquidez à economia cubana (que já por si tem pouca) e constitui um rude golpe na economia paralela, tão importante para a sobrevivência de muitos cubanos. A reacção de Fidel a este agravamento foi curiosa: retirou das lojas tudo excepto alimentação e produtos de higiene. A mensagem é simples: povo meu, não desperdicem dinheiro em bens não-essenciais. E este é, para mim, o traço mais marcante de Fidel - o seu paternalismo. Fidel considera-se o pai do povo e, como todo o progenitor super-protector tornou-se castigador e tranformou-se em algo muito prejudicial para os seus filhos.

Outra coisa curiosa em Cuba é que ao contrário, por exemplo, das ditaduras africanas, aqui não há traços de corrupção e as classes dirigentes não parecem viver faustosamente - viverão melhor que a maioria, mas nada leva a crer que se comportem como Mobutu, José Eduardo dos Santos, ou tantos outros déspotas africanos.

Nada disto contraria o que foi dito antes e o meu sincero desejo é que Fidel caia e que o povo cubano possa viver livre e prosperar. Mas não queria deixar de salientar alguns traços muito característicos do regime cubano, que o distinguem das demais ditaduras contemporâneas, mesmo que no essencial sejam semelhantes (falta de liberdade de expressão, supressão da livre iniciativa, autoritarismo, violência de Estado, etc.)

11:12 da manhã  
Blogger Miguel Pinto said...

A minha posição perante o regime cubano já é conhecida da maioria dos meus amigos: uma ditadura é uma ditadura, não há cá desculpas para ninguém, a ideologia não pode (ou não devia) desculpar abusos e arbitrariedades.

Posso mandar-vos por e-mail a minha apreciação política sobre o regime cubano que escrevi há dois anos depois das minhas férias por lá. São "só" 17 páginas mas penso que se lêem bem...

As férias foram, é claro, geniais!

12:30 da tarde  
Blogger JTF said...

Concordo totalmente, Miguel. A intenção era só mesmo salientar os dois únicos aspectos que me pareceram muito característicos desta ditadura específica. De resto, acredito mesmo que a eternização no poder e a limitação da liberdade de crítica e de escolha levam a que qualquer ditadura descambe na total ausência de sustentação ideológica. As ditaduras não são nem de esquerda, nem de direita. Na maior parte das vezes confundem-se e intersectam-se.

2:44 da tarde  

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