sexta-feira, setembro 30, 2005

Em Oeiras não consigo perceber...

Os dados relativos aos censos de 2001 facultam-nos informação acerca do grau de instrução da população. Seleccionei os valores de quatro “concelhos maravilha” - Gondomar, Amarante, Felgueiras e Oeiras - e a média nacional.

Taxa de Analfabetismo
Portugal 9%
Gondomar 5,5%
Amarante 11,1%
Felgueiras 8,5%
Oeiras 3,7%

População sem nenhum nível de ensino
Portugal 14%
Gondomar 12%
Amarante 17%
Felgueiras 16%
Oeiras 9%

1º Ciclo do Ensino Básico
Portugal 35%
Gondomar 36%
Amarante 43%
Felgueiras 44%
Oeiras 22%

Ensino Secundário
Portugal 16%
Gondomar 18%
Amarante 9%
Felgueiras 7%
Oeiras 22%

Ensino Superior
Portugal 11%
Gondomar 9%
Amarante 6%
Felgueiras 4%
Oeiras 26%

Gondomar apresenta indicadores muito parecidos aos da média do país (MUITO mau sinal para o país) excepto na taxa de analfabetismo, que é inferior.

Amarante e Felgueiras são um autêntico desastre como, aliás, toda a região onde se inserem (Tâmega) e que também inclui o Marco de Canavezes (e Cinfães para os que conhecem): em Felgueiras só 4% dos habitantes puseram os pés numa universidade!!!

Oeiras destaca-se como tendo níveis de qualificação dos seus habitantes muitíssimo melhores que a média do país e só há razões para crer que tenham melhorado desde 2001.

As análises ficam para quem as quiser fazer.

Arregaçar mangas no Intendente?



A campanha de Carmona Rodrigues decidiu afixar este cartaz no Intendente com o intuito de ensinar aos agarrados como arregaçar as mangas das camisas para, assim, se poderem injectar com maior conforto. Em baixo vários cidadãos esforçam-se por imitar o ainda senhor presidente do município e espetam seringas nos braços à vista de quem passa. E ainda há quem diga que a dupla maravilha não fez nada pela cidade de Lisboa! Que injustiça!

quarta-feira, setembro 28, 2005

Pele fina

"Ajude-me por favor.
Não sou cigana."

É por estas e por outras

que o nível das universidades portuguesas anda, cada vez mais, pelas ruas da amargura.

Às 16.30, hoje, no I.S.T. - Carmona vs. Carrilho vs. Nogueira Pinto vs. Ruben Carvalho vs. Sá Fernandes.

Iraque

A situação no Iraque está muito longe de estar resolvida. Num país que está à beira (?) da guerra civil, importa tentar perceber o que aconteceu.

Saddam Hussein é claramente um ditador tirano e um assasíno. Não haja dúvidas de que isso é verdade.

A quem poderia caber a tarefa de o depôr? Quem ou que instituição tem hoje em dia (ou teve alguma vez no decurso da história) a legitimidade para depôr regimes deste tipo? Nenhuma, na minha opinião. Apenas aqueles que pela lei do mais forte - militar ou economicamente - podem aspirar a fazê-lo sem recear retaliações do resto do mundo.

Entram os E.U.A. em cena em clara retaliação pelos atentados do 11 de Setembro. Três motivos principais: ligações entre o Iraque e os terroristas árabes, o petróleo do Iraque e as alegadas armas de destruição maciça. Uma série de outras questões relacionadas com a dinamização da economia americana também deverão ter pesado na decisão.

Passado bastante tempo da intervenção, a situação no Iraque não melhorou, continua a morrer muita gente, os americanos ainda não conseguiram sair do Iraque e penso que é altura para tentarmos perceber (ainda que não se tenha concordado, que seja moralmente reprovável, etc., etc., etc.):

- Valeu a pena?
- Houve alguma melhoria para os iraquianos?
- Está a compensar para os americanos?
- As relações internacionais foram melhoradas?
- E para nós europeus? Ganhámos alguma coisa? E perdemos?
- Vai a actual situação no Iraque escalar e trazer mais retaliações dos terroristas árabes à Europa e E.U.A.?
- Conseguirá alguém manter a ordem naquela mescla de povos que se odeia que é Iraque?
- O mundo que estamos a forjar ainda tem como valor principal a liberdade?
- Enquanto Humanidade perdemos, ganhámos ou ficámos na mesma?

segunda-feira, setembro 26, 2005

Do nível do debate político em Lisboa

A Manuel Maria Carrilho bastava-lhe associar Carmona Rodrigues a Santana Lopes e manter alguma calma para ganhar a presidência da CML. Era limpinho. A maioria dos lisboetas está cansada do rumo que Lisboa (não) tomou nos últimos quatro anos e uma campanha minimalista mas sóbria era suficiente.

Mas os dois principais protagonistas desta campanha – Carrilho e Carmona Rodrigues – envolveram-se numa confrontação com um nível tão baixo que muitos sentirão repugnância política em colocar a cruz na casinha do PS no próximo dia 9 de Outubro. Eu sou um deles.

Assistimos, assim, a um paradoxo: Lisboa é a cidade do país cuja população tem os níveis de qualificação e de formação mais elevados mas também deve ser aquela em que o nível do debate político é mais reles e mesquinho. Os eleitores gostariam com certeza de ver discutidas IDEIAS para a cidade num clima de maior civilidade mas os dois principais protagonistas não estão a fazer a vida fácil a quem vota na capital.

Se se assumir que os eleitores de direita são, por um lado, menos idealistas - e por conseguinte menos sensíveis à questão da forma que o debate toma - e têm, por outro lado, menos alternativas de voto que os seus vizinhos de esquerda, está-se mesmo a ver a quem beneficia esta peixeirada em que se tornou a campanha eleitoral em Lisboa: ao PSD que mais facilmente mantém a presidência da CML devido à fuga de votos do PS para o BE e para o PCP.

Restam menos de duas semanas a Carrilho para alterar o seu comportamento e tentar fazer mudar de opinião, se é que ainda é possível!, muitos lisboetas. Se o PS não conseguir alcançar a presidência da CML só existe um responsável: ele chama-se Carrilho!

Estado Civil

sexta-feira, setembro 23, 2005

Não fôssemos nós sair porta fora



O autocarro parava em locais estranhíssimos para deixar sair passageiros. A corda azul tinha sempre de voltar a ser bem apertada para a porta não abrir.

Regresso à estrada


"Não se preocupem que daqui a 150 km já há lugares sentados, afirmava o motorista"

Quatro e meia da manhã foi a hora combinada para nos irem buscar ao hotel. O percurso de regresso incluía uma viagem de chapa até ao Namialo para aí apanhar o primeiro autocarro que passasse para Pemba.

O primeiro autocarro vinha tão cheio que nem havia lugar para pôr os pés. Os animais na Europa são transportados com maior conforto. Recusámos fazer a viagem e descemos. Enquanto aguardávamos que chegasse outra alternativa tivemos uma experiência bastante má: em sociedades pobres e desorganizadas os mais fracos estão ainda mais expostos ao pior que a natureza humana tem que noutros sítios. Os vários espectáculos degradantes que os tolos da terra e a população nos proporcionaram em 20 minutos foram suficientes para me arrasarem emocionalmente. As "férias-aventura" exigem algum estofo.

O segundo autocarro vinha menos cheio e arranjámos uns bons lugares a pé mesmo ao lado do simpático motorista que nos tinha conduzido alguns dias antes. Sair do Namialo era o mais importante a fazer.

Contraditórios

Caríssimos 3 leitores,

A partir deste preciso momento e na sequência do comentário exaltado que acabo de deixar no post anterior, o exercício do direito ao contraditório neste blog (vulgo comentário) passa a poder ser exercido apenas por seres humanos alfabetizados.

Porquê?

Porque na sequência do cerrado ataque de Spam Comments de que estávamos a ser vítimas de cada vez que escrevíamos o que quer que seja, decidi (unilateralmente, mas certo do apoio dos meus co-queimadores) activar a Word Verification no Contraditório!

O que é que isso quer dizer?

Quer dizer que agora, quem quiser deixar comentários (que nós muito gostamos de receber e que muito agradecemos, porque achamos que sem interactividade isto faz pouco sentido) terá que ser um ser humano (ou alguma espécie extraordinariamente inteligente de macaco) capaz de identificar letras e reproduzi-las num campo disponibilizado para o efeito perto da caixa de comentários, de forma a evitar que máquinas idiotas povoem o nosso mui estimado espaço de comentários de trampa do género dos que têm abundado nos últimos dias e que começando com a frase "I love your blog" pretendem que a malta vá a correr comprar Viagra, inscrever-se em bolsas de «trabalhe a partir de casa», ver gajas nuas, etc.

Assim, peço a vossa compreensão e espero que mais este passo no exercício do vosso direito ao contraditório, não represente um obstáculo que vos faça desistir de discutir connosco!

Certos de continuar a beneficiar da vossa preferência, subscrevemo-nos,

Com os melhores cumprimentos e o maior desprezo à bosta das máquinas que me andam a fazer perder a cabeça,

A Gerência!

O gato que pilotava o dhow





Chamava-se Esma o dono do dhow. O Esma corria como um gato de um lado para o outro, elegante, para subir e descer as velas, jogar fora a água que se ia acumulando no fundo da quilha, equilibrar o barco... O Suf, o mais velho de 10 filhos, ia ao leme.

Mudança rápida de humor


Antes de entrar

Marinheiro

Já sei que há quem tenha mais estilo a nadar, já sei...

Longe de imaginar o que nos ia acontecer já a seguir

Um dos elementos mais presentes na paisagem costeira da África Oriental é o dhow e eu não voltava das férias satisfeito se não desse uma volta num desses barquinhos de vela triangular de origem árabe. Num dos dias em que estivemos na Ilha de Moçambique sem nada para fazer abordámos um pescador que se encontrava na praia em frente ao hotel e combinámos uma volta à Ilha para a manhã seguinte por 300.000 meticais (cerca de 10 euros).

A viagem teve a duração aproximada de duas horas e pode dividir-se em dois momentos bem distintos. O primeiro foi idílico. As fotografias dão uma boa noção disso. O segundo foi horroroso e nunca nenhuma imagem o conseguiria retratar. Na altura em que saímos do canal que separa a ilha do continente e passámos para o mar alto, o tempo virou: o céu ficou cinzento e o mar revolto. Em menos de cinco minutos fiquei todo zonzo e pedi ao pescador que aportasse na praia mais próxima (eu já estava a ver que ia morrer ali).

Não me tinha apercebido mas a praia mais próxima ficava já no sul da Ilha. Acontece que os areais dessa zona não têm como finalidade o lazer mas a satisfação de necessidades básicas. No sul da Ilha ir à praia não é sinónimo de ir apanhar sol; ir à praia quer dizer ir à casa de banho. Mal saltámos do barco e pusemos os pés no areal vimos uma criança de cócoras com os músculos da cara arrepanhados e um olhar esgroviado. Mas bastava olhar para o lado para ver dezenas de pessoas a fazer o mesmo: abriam uma covinha na areia, agachavam-se e depois voltavam a tapá-la. O cheiro em toda aquela zona era pestilento.

As imagens românticas sobre aquele preciso local (existe ali uma capela muito bonita) que vi num documentário apresentado pelo Miguel Portas (este também está em todas) já depois de regressar não são suficientes para me fazer esquecer o fim abrupto da viagem. Aquelas pessoas animalizadas, aquele cheiro, aquela miséria, aquela falta de esperança, aquele ambiente de Idade Média... imagens e cheiros que me atormentam.

Incompatibilidades

Copyright: Delfim
Hoje, a meio da manhã, como acontece todas as semanas, chegou o mail com as saídas de mergulho do próximo fim de semana.

No mail anunciava-se para o próximo domingo uma saída com grau de dificuldade baixo e local a definir pelo grupo, com profundidade máxima de -18 metros.

Passado já um ano sobre a data em que concluí o curso, sem ter mergulhado uma única vez desde então e sem a minha buddy, que nunca o chegou a terminar, lembrei-me do meu novo buddy e do seu curso acabadinho de fazer! Acto-contínuo, pensei:

«Podíamos ir...»

Este pensamento, que ainda ia a meio, foi imediatamente interrompido por um pragmático:

«... ah! Não... Temos a festa no Sábado e não convém...»

Mas também este pensamento, apesar de mais pragmático, não sobreviveu nem um segundo e foi imediatamente abandonado em favor de um avassalador assomo de realidade:

«Bolas! Mas se nós vamos fechar o Tokyo praticamente todas as sextas e sábados...»

quinta-feira, setembro 22, 2005

Maria Madalena

terça-feira, setembro 20, 2005

A praia e as estrelas


Uns antigos armazéns que qualquer dia viram hotel

Não é montagem, o dhow estava mesmo lá!

Sem comentários

Em alguns momentos a Ilha de Moçambique aproximava-se bastante da definição que tínhamos feito de destino ideal de férias. Já vos apresentei o restaurante e comentei por alto o alojamento. Também já deu para perceber que o sítio tinha algum encanto. Mas havia duas outras coisas fenomenais. A primeira são as estrelas. Como naquela zona quase não há iluminação, a poluição luminosa é mínima e vêem-se triliões de estrelas. Tenho sérias dúvidas que alguma vez tenha visto tantas. A segunda é a praia. A areia é branca e fina como farinha (é a chamada areia maizena) e a água estava impecável, mesmo sendo Inverno. E com aquele cenário!

Fortaleza de São Sebastião


A entrada da Fortaleza

A praia vista da Fortaleza

Nossa Senhora do Baluarte (um anjinho em primeiro plano)

O dia aproxima-se do fim

Um dos pontos de maior beleza cénica da Ilha de Moçambique é a Fortaleza de São Sebastião. E isto tanto vale para quem vê a Fortaleza como para quem vê desde a Fortaleza. Construída no século XVI pelos portugueses, é património UNESCO. O que mais impressiona é a localização sobre as rochas que fazem a delimitação norte da ilha: a abordagem por mar é praticamente impossível por causa dos corais. Li algures, mas não posso confirmar, que é toda construída com pedra levada desde Portugal como lastro nos porões dos navios. O interior é pouco interessante e recordou-me um forte abandonado que visitei em Elvas em 2000. Aliás, todo o monumento se encontra em adiantado estado de degradação mas estão prometidos para muito breve os trabalhos de recuperação (apoiados pela cooperação japonesa).

Ao lado da Fortaleza está a capela da Nossa Senhora do Baluarte, construída em 1522 e, por isso, a mais antiga construção europeia no hemisfério sul!

segunda-feira, setembro 19, 2005

Quem não se sente não é filho de boa gente?


Carrilho, filho de boa (?) gente, na Feira do Relógio

Acho muita piada a ditados populares e recorro frequentemente a estes pequenos condensados de empirismo acumulados ao longo de tantas gerações – e que ainda por cima costumam fazer umas rimas muito agradáveis – para expressar de forma mais fácil algumas observações que faço acerca daquilo que me rodeia.

Os ditados populares apresentam, todavia, um grande problema: como são imutáveis, não acompanham a realidade social e alguns tendem a tornar-se excessivamente REACCIONÁRIOS. Foi por essa razão que quando na última campanha eleitoral o Jerónimo de Sousa disse que é preciso estar sempre com “um olho no burro e outro no cigano” se arrependeu ainda nem ia a meio da frase...

O ditado que mais tenho ouvido nos últimos dias é “Quem não se sente não é filho de boa gente”. Isto é mais ou menos o oposto do cristianíssimo “dar a outra face”, pelo que detecto aqui uma grave incoerência num povo tão católico como parece que é o nosso. Mas pronto, deixar o povo ter as suas contradições!

O que mais me espanta é que este ditado tem sido proferido pelo mui douto filósofo Manuel Maria Carrilho, reputadíssimo intelectual da praça e candidato socialista à Câmara capitalina. Eu imaginava que o senhor tinha maior capacidade de argumentação, mas pelos vistos não. O nosso filósofo já nos provou que era um grande macho quando arranjou uma fêmea como a Bárbara Guimarães; mas agora parece que quer andar à porrada com o CARMONA Lopes. E eu fico parvo porque vejo a disputa eleitoral em curso entre os dois principais candidatos à CML não como uma acesa troca de ideias mas como uma peleja de testosterona. Se todos os candidatos aplicarem o mesmo ditado, em breve terão de construir um ringue de boxe no Campo Pequeno.

Carrilho, pá, o que a minha avó dizia é que “Quem não se SENTA não é filho de boa gente”. Topas? O verbo é sentar e não sentir. O povo fica de pé e os mais endinheirados têm direito a lugar sentado, essa é que é a grande diferença entre as classes! Por falar nisso, nunca tinha ouvido falar dos Carrilhos antes! Por isso Manuel Maria, puxa aí um banco, bebe uma xícara de chá – que bem falta te faz – acalma-te e acaba lá de redigir o programa que já faltam menos de três semanas para as eleições. É que isto está difícil aqui para os eleitores de Lisboa, sabes?

Air Luxor

Os gatos fedorentos têm uma cena muito engraçada chamada JavardAir ou coisa que o valha. Pretende retratar os voos feitos naquelas companhias aéreas manhosas que operam os charters manhosos para destinos manhosos.

Nós comprámos um voo na Air Luxor porque as nossas experiências anteriores tinham sido positivas. Mas esta deve ter sido a última vez que entrei num avião da Air Luxor. O avião de Lisboa saiu com mais de 28 horas de atraso, no regresso atrasou-se mais de 4 horas e as condições do serviço eram de fugir. Segue-se a queixa enviada há pouco para o Provedor do Cliente da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo depois de a Air Luxor nos ter mandado dar uma volta ao bilhar grande.

A segurança e o conforto nas viagens aéreas levou-nos a escolher um destino operado pela Air Luxor nas férias de Verão 2005. O facto de a referida companhia reservar a segunda página dos folhetos promocionais para descrever “a moderna frota que inclui os modelos tecnologicamente mais avançados da Airbus, o A320 (utilizado nas rotas de médio curso) e o A330 (utilizado nas rotas de longo curso)” foi, assim, fundamental para a escolha da Air Luxor como empresa transportadora.

No entanto, o serviço prestado esteve longe de cumprir as condições publicitadas pela companhia. A avaria do Airbus A330 que nos devia transportar de Lisboa para Maputo no dia 19 de Agosto levou a Air Luxor a recorrer a um Lockheed L-1011 TriStar 500 da empresa Luz Air. Apesar de o equipamento não ser contratualmente definido pela compra do bilhete, o facto é que a Air Luxor procedeu à substituição da aeronave publicitada por outra cujas condições interiores de conforto são substancialmente inferiores. Foram várias as desconformidades do serviço prestado:

a) As instalações sanitárias do Lockheed estavam em péssimas condições; metade dos WC tinham os autoclismos avariados e em nenhum havia sabonete, o que é particularmente grave num avião que transporta cerca de 300 passageiros numa viagem de aproximadamente 13 horas; torna-se desnecessário descrever as precárias condições de higiene a bordo;
b) O projector de filmes do Lockheed estava avariado na minha zona;
c) As luzes de leitura do Lockheed eram frequentemente desligadas pela tripulação porque, de acordo com o que uma assistente de bordo explicou depois de repetidas queixas nossas, “como o avião era velhinho, o aquecimento provocado pelos focos aquecia demasiado os fios eléctricos”; foi impossível ler durante grande parte do trajecto;
d) Diversas lâmpadas do Lockheed tinham os arrancadores avariados pelo que não funcionavam;
e) As diversas luzes do interior do Lockheed acendiam-se e apagavam-se de forma frenética, aleatoriamente e sem explicação aparente;
f) Algumas bagageiras do Lockheed abriam-se sozinhas durante as descolagens e aterragens fazendo cair os pertences aí colocados sobre os passageiros, criando situações de grande perigo potencial;
g) A tripulação da Luz Air não tinha formação adequada para lidar com as situações desagradáveis causadas por outros passageiros justificadamente descontentes e que reclamavam contra as condições de transporte, criando um ambiente tenso a bordo (um passageiro foi mesmo ameaçado de prisão pelo capitão);
h) A tripulação da Luz Air desconhecia totalmente o serviço que estava a prestar, chegando ao ridículo de ler a mensagem de despedida dos passageiros que pretensamente desembarcavam em Libreville e aconselhando-os a contactar o pessoal de terra no caso de se encontrarem em trânsito; tratava-se apenas de uma escala técnica para reabastecimento;
i) Todas as situações anteriormente descritas relativas à deficiente manutenção do interior do Lockheed e à falta de preparação da tripulação da Luz Air fazem questionar a sua segurança, não só durante a duração do voo mas também quanto ao regresso, criando uma sensação de angústia durante todas as férias; essa angústia levou-nos a contactar a Air Luxor Tours durante a estadia em Moçambique por forma a assegurar que o regresso seria efectuado num equipamento diferente;
j) A Air Luxor promove os voos Lisboa-Maputo como directos mas faz escalas técnicas para reabastecimento em Libreville (Gabão) com aproximadamente duas horas de duração com bastante frequência (pelo menos nos voos de 12/Agosto, 19/Agosto e 2/Setembro); os voos vendidos como “directos” com uma duração de 10 ou 11 horas atingem assim as 13 ou 14 horas como foi o caso quer na ida quer no regresso; apesar de a Air Luxor alegar que o tempo de voo inclui a escala técnica no Gabão, não havia um único passageiro a bordo que tivesse conhecimento prévio dessa escala;
k) Todas as portas do avião foram abertas durante o reabastecimento em Libreville, região onde a febre amarela é endémica e doença para a qual não nos encontramos imunizados dado não termos sido alertados atempadamente; diversos países, entre os quais Moçambique, exigem o certificado internacional de vacinação contra a febre amarela a passageiros provenientes de zonas onde esta é endémica; assume-se, portanto, que as condições da escala técnica no Gabão sejam desconhecidas das autoridades moçambicanas.

Considerando que o serviço publicitado e no qual baseámos a nossa decisão de compra não corresponde ao serviço efectivamente prestado pela Air Luxor, como anteriormente exposto, vimos por este meio requerer uma compensação no valor de 400 euros por pessoa. Consideramo-nos vítimas de publicidade enganosa pois adquirimos o serviço no pressuposto de que viajaríamos num avião cujas condições de conforto fossem equivalentes às dos aviões publicitados (Airbus A330 ou equivalente) e acabámos por viajar num equipamento de qualidade muito inferior. Este montante equivale a aproximadamente metade do custo da viagem, incluindo os suplementos e excluindo as taxas de aeroporto.

A não aceitação deste pedido de compensação por parte da Air Luxor leva-nos, assim, a recorrer à figura do Provedor do Cliente da Associação Portuguesa de Associações de Viagens e Turismo por forma a vermos reconhecidos os nossos direitos enquanto consumidores enganados pelas práticas comerciais da Air Luxor.

Subscrevemo-nos com os melhores cumprimentos

Agora sim, finalmente democratizados

Pensamentos de 2ª feira

Se o rendimento per capita em Lisboa é 40% superior ao rendimento médio no resto do país, porque é que anda tanta gente preocupada com a desertificação do interior?

sexta-feira, setembro 16, 2005

CARMONA lopes santana RODRIGUES



2005-09-10
Inaugurada primeira fase do Jardim do Arco do Cego


No dia 10 de Setembro, foi inaugurada a primeira fase do Jardim do Arco Cego, onde estiveram presentes a vereadora dos Espaços Verdes, Eduarda Napoleão, o vereador das Obras Municipais, Pedro Pinto, a vereadora da Juventude, Ana Sofia Bettencourt, e Pedro Santana Lopes, ex-presidente da CML.



Em 2001, por esta altura, a cidade de Lisboa estava enxameada de cartazes com a figura de Paulo Portas. Por trás, em letras garrafais, estava escrito EU FICO. Recordais-vos?
Passados poucos meses o Portas saía para o governo deixando pendurada a promessa que fizera aos lisboetas crédulos. O Carmona Rodrigues, na época número dois da CML, havia de se lhe juntar como ministro pouco tempo depois. Quando o Durão se pirou para Bruxelas foi a vez do Santana saltar para o Governo. Nessa altura, o Carmona regressou à base e tornou-se presidente da CML. O Portas é que não estava numa de downgrades e permaneceu como ministro. Em Fevereiro passado o Santana foi corrido do governo, assumindo de novo a presidência do município. O Carmona voltou para número dois da CML. Quando todos pensavam que o circo estava a acabar eis que o Santana decide ir para a Assembleia da República para não perder o lugar de deputado (sempre são mais quatro aninhos de salário seguro) e o Carmona volta a ocupar a presidência.

É verdade, o Presidente da CML neste momento é o Carmona Rodrigues! Temos aqui um empate: Santana 2 - Carmona 2. O que vale é que o coitado do homem não tem rigorosamente nada a ver com a gestão do Santana – acho que nem se conheciam - e será certamente um bom Presidente da Câmara no caso de ser eleito. Eles só querem é o melhor para a cidade. EU FICO convencido. E tu?

Festival de cinema gay e lésbico de Lisboa

Começou ontem no cinema Quarteto o festival de cinema gay e lésbico de Lisboa. Apesar da forte oposição com que conta por parte deste executivo da CML - as histórias de perseguição ao movimento LGBT por parte dos gémeos Santana/Carmona e da sua equipa são inúmeras e escandalosas - já vai na sua nona edição. A generalidade dos filmes não chega aos circuitos comerciais mas alguns são de muito boa qualidade (outros nem por isso). O programa, as sinopses e essas coisas todas podem consultar-se em http://www.lisbonfilmfest.org/

quinta-feira, setembro 15, 2005

Arquivos complementares

A gerência tem o prazer de comunicar aos nossos estimados e fieis leitores que abrimos hoje arquivos complementares ao QnM.

O objectivo é ter assuntos específicos agrupados ou publicar outras coisas (fotografias, por exemplo) que não teriam tempo de antena aqui no QnM. Assim, para já temos:

FotoBlog - fotos que vão sendo tiradas por aí
Moçambique - posts do Miguel sobre Moçambique

É possível que venham a ser mais, mas também pode ser que não.

Esperemos que gostem e que cliquem ali nos links dos Temas Queimados.


[Os membros do QnM]

quarta-feira, setembro 14, 2005

O Palácio do Governador









O Palácio do Governador é um milagre numa ilha de destroços e mantém-se impecavelmente bem tratado. O seu espólio conta com tapetes de Arraiolos, lustres de Murano, mobiliário indo-português, porcelanas Vista Alegre, peças de louça da dinastia Ming... O cuidado e o carinho que o guia do Palácio tem pelo seu trabalho parecem explicar esta destoante conservação. No entanto, é já tempo de se nomear um conservador profissional para aquele museu; afinal é uma peça importante da história comum de Moçambique e de Portugal que ali está!

Apocalipse


Algumas manchas perdidas de alcatrão permitem perceber que o piso nem sempre foi areia

As fachadas dão a entender que em tempos idos foram outros os habitantes

O tribunal revela que a Ilha já teve outra dimensão

Hoje já não há quem mergulhe

A Ilha de Moçambique foi capital do país até 1898, ano em que essa função passou a ser desempenhada a partir de Lourenço Marques. Enquanto nos séculos XV e XVI a superioridade naval dos portugueses aconselhava a criação de entrepostos em ilhas próximas da costa – que permitiam simultaneamente manter o comércio e eram mais fáceis de defender de ataques por terra –, no final do século XIX a ameaça mais imediata era a da anexação da Delagoa Bay (Baía de Maputo) pelos boers. A exiguidade de espaço na Ilha de Moçambique também deve ter contribuído para a decisão de transferir a capital.
A lenta decadência da Ilha de Moçambique foi acelerada pela saída repentina dos colonos em 1975 e posterior ocupação dos edifícios pelos deslocados de guerra. A maioria da Ilha faz lembrar alguns cenários de filmes pós guerras nucleares em que os sobreviventes vivem dos restos das sociedades anteriores mas regrediram tanto que não entendem o que vêem. A Ilha de Moçambique é assim um sítio em que o presente tem pouca importância: ali existiu um passado, ali há potencial de futuro (de que alguns novos hotéis e projectos de recuperação são indício). Na Ilha de Moçambique somos permanentemente levados a viajar no tempo, o presente é insuficiente.

A comidinha


A esplanada do Relíquias

O interior do Relíquias

Um cliente satisfeito


Estávamos a começar a ver a vida a andar para trás quando decidimos sentar-nos no Relíquias para almoçar. Foi o melhor que podíamos ter feito. Aquela primeira experiência culinária foi tão positiva que durante os três dias que ficámos na Ilha de Moçambique fomos lá sempre almoçar e jantar. O pão, as sopas, o sumo de cajú, a matapa de siri-siri, o caril de camarão, a garoupa grelhada, o arroz de coco, as papaias maduras... As papilas gustativas foram pornograficamente sobre-estimuladas e fui por várias vezes à cozinha dar os parabéns à artista que preparava os pratos! Tudo era cozinhado em tachos e panelas aquecidos a carvão e isso fazia entender a razão do aviso “Este é um restaurante de comida lenta e alguns pratos levam aproximadamente 45 minutos a ser confeccionados”.

A natureza africana



Não bastava a alforreca do dia anterior. Uma aranha decidiu banquetear-se na barriga aqui do je. Felizmente não deu comichão.

O alojamento na Ilha de Moçambique


Hotel Omuhipiti

Saída para a praia do novo hotel da Ilha de Moçambique

Antes de sair de Portugal tinha feito uma reserva de alojamento num sítio chamado Pátio dos Quintalinhos. Várias referências abonatórias e um sítio na net muito apelativo levaram-me a tomar esta decisão. Errado! Não só à chegada não faziam a mínima ideia de quem éramos (apesar de o proprietário ter confirmado pessoalmente a disponibilidade por correio electrónico) como estavam cheios e só me arranjavam um quarto sem casa de banho. A água pútrida da piscina semi-vazia e uma baratona (em pleno dia!!!) a passear displicentemente na cama onde era suposto dormirmos contribuiu para a nossa decisão de pegarmos nas mochilas e irmos procurar alternativa. O Hotel Escondidinho estava cheio pelo que acabámos por ficar a dormir no Omuhipiti, uma unidade comparável ao Inatel e onde um quarto duplo com pequeno-almoço custa cerca de 65 euros por noite. As vistas para o mar, a localização mesmo em frente à única praia praticável da Ilha e a qualidade razoável do serviço compensam o pouco charme do hotel. Mais tarde descobrimos outras opções de alojamento com aspecto razoável. Está ainda em fase final de construção um novo hotel propriedade de um português chamado Jorge. Os quatro quartos que já estão prontos têm um aspecto fantástico.

A entrada na Ilha de Moçambique


Ilha de Moçambique: Ao fundo o Palácio do Governador

A chegada à Ilha de Moçambique não foi uma experiência muito agradável. A ilha estende-se no sentido norte-sul, sendo que à zona mais setentrional se chama “cidade de pedra” e à mais meridional “cidade de makuti”. Makuti é um eufemismo para barracas e qualquer romantismo perde sentido quando o contacto se faz sem intermediário, isto é, sem uma câmara de TV ou um guia turístico pelo meio. A ponte que liga o Lumbo (no continente) à Ilha termina na zona sul pelo que a entrada se faz pelo meio da miséria. Grande parte dos habitantes são deslocados de guerra que não voltaram às suas regiões de origem. Não existem as mínimas condições higio-sanitárias e o cheiro é nauseabundo.

Meia dose?


Portagem de Moamba, estrada Maputo - Pretória

Como se chamarão os habitantes desta terra?

terça-feira, setembro 13, 2005

Cá para mim, este gajo ainda vai voltar...

Só que como o Mr. Clinton ainda só tem 59 aninhos, ainda está a dar tempo ao tempo.

Notável, no entanto, esta sua iniciativa.

sexta-feira, setembro 09, 2005

A saber

A menina da Incrível Mesazul escreve agora no En Harmonie, ou para baralhar, no Sotto Voce (tal como está ali na barra de links ao lado).

quinta-feira, setembro 08, 2005

Para a semana há mais


Transportes Mecula: Não fosse a porta abrir-se numa curva mais apertada...

Vou estar fora durante uns dias mas no regresso termino o relato das férias em Moçambique. Para deixar água na boca posso acrescentar que há mais uma viagem nos transportes Mecula para contar! Até para a semana!

E para rematar a viagem...


Um contacto próximo com a população que nem os políticos nacionais em período eleitoral conseguem igualar nas suas visitas aos mercados.

A ponte que liga o Lumbo (no continente) à Ilha de Moçambique era demasiado estreita para o minibus. Vai daí, transferiram-nos a todos para uma carrinha de caixa aberta. Cheguei ao destino todo partido e com medo que a qualidade do transporte continuasse a regredir àquele ritmo estonteante... Felizmente estávamos a chegar ao destino, devia ser para aí uma da tarde.

O Chapa


Já no fim do trajecto pude aproximar-me da janela. Átrás dos óculos de sol estou eu!

O Monapo é um cruzamento da estrada Nampula-Nacala de onde sai um desvio para a Ilha de Moçambique (aproximadamente 50 Km). Existe uma fábrica de processamento de cajú do grupo Entreposto, uma bomba de gasolina da Galp e pouco mais.
Saímos do autocarro e apanhámos um chapa. O minibus, importado em segunda mão de um país asiático qualquer, chegou a transportar 50 pessoas, algumas penduradas de fora. Não levava nem 10% do rabo sentado e sempre que um passageiro de trás queria descer e não tinha agilidade suficiente para sair pela janela tínhamos de nos levantar todos, sair e voltar a entrar. Foi a única maneira de não ficar com as pernas em formigueiro, pelo menos! O comércio com o exterior era intensíssimo e o velhote que ia ao meu lado comprou umas ervilhas e malaguetas para o almoço (era para enganar o estômago, dizia). Uma galinha custava 65.000 meticais (1 euro = 30.000 meticais).

Área de serviço


Torcer o pescoço é saudável e faz a coisa parecer menos chocante (além de que não me apetece procurar as instruções para rodar a imagem)

Em Chiúre ficava a única área de serviço de todo o trajecto: nem mais nem menos que uma tasca propriedade de um branco. Aliás, o único que vimos durante quase 400 km. Quer dizer, havia por lá um branco, suponho que fosse o dono por duas razões: primeiro porque não estava a fazer nada e segundo porque em Moçambique patrão e branco são sinónimos (tratavam-nos por patrão!).

A casa de banho era um buraco que abrigava triliões de larvas rodeado por uma barreira visual de caninhas como se pode ver pela imagem. Ao lado do buraco havia um bidão com água barrenta. Como cerca de 80% dos habitantes do norte de Moçambique são muçulmanos e os preceitos religiosos os obrigam a lavar-se depois de utilizarem a casa de banho, os passageiros anteriores enchiam a caneca com aquela água infecta do bidão e despejavam-na por cima da gaita.

As galinhas


Vai uma coxinha?

Vejam-me só o aspecto daqueles bolinhos...

Galinhas, frango assado, bananas.

Cajú

O autocarro parava onde quer que fosse e surgiam sempre do nada, por mais desabitado que o sítio pudesse parecer, vendedores de bananas (comprei um enorme cacho de bananas vermelhas, nem sabia que existia aquela variedade, mas a generalidade delas era semelhante às da Madeira), mandioca, cajú, galinha assada, cestaria diversa, papaias, tomates, ervilha em grão, galinhas... Nos sítios onde as paragens eram programadas, juntavam-se-lhes os que vendiam bolos e biscoitos (com excelente aspecto, mas tive de resistir), pão, pacotes de bolachas, garrafas de água, refrigerantes, rebuçados e pastilhas elásticas... E as pessoas não só iam adquirindo esses produtos para consumo imediato como se iam abastecendo para quando chegassem ao destino. Ainda estou para perceber porque insistiam tanto connosco para que comprássemos galinhas vivas. Os tipos não deviam sequer conceber que nós pudéssemos andar ali só a passear de um lado para o outro e que não fazíamos tenções de levar bicharada para o hotel (aliás, saberiam o que é um hotel naqueles fins de mundo?).

O machimbombo



Os autocarros do grupo Mecula são semelhantes aos que circulam em muitas zonas rurais de Portugal. No interior a principal diferença é o facto de haver 5 assentos por fila em lugar de 4. Assim sempre cabe mais gente. Mas também não faz mal porque os macuas são pequenos. Outro pormenor a não desprezar é a questão de não haver lotação: o espaço mede-se em metros cúbicos e não em metros quadrados. Tivemos sorte porque na nossa viagem não ia ninguém de pé.
Os machimbombos do Mecula saem todos de Pemba às 5 da manhã, ainda antes de o sol raiar, e dirigem-se a Nacala, Nampula, Mueda e Mocimboa da Praia. Nós apanhámos o que se destinava a Nacala e descemos no cruzamento do Monapo para apanhar um chapa.
O propósito inicial da viagem era não ter de desembolsar os 250 euros por trajecto que nos pediam em Pemba para chegar à Ilha de Moçambique. Acontece que a viagem de machimbombo acabou por ser o momento mais especial destas férias. Está certo que acordar antes das 4 da manhã pode parecer violento mas o espectáculo proporcionado pelo nascer do sol em África foi grandioso. Sentiamo-nos a atravessar um lugar de fim do mundo e percebemos que não havia muitos estrangeiros a fazê-lo: não só fomos tratados com imensa cortesia pelo motorista e pela cobradora como éramos olhados pelos restantes passageiros como aves raras; os habitantes das aldeias onde parávamos olhavam-nos com imensa curiosidade e fartavam-se de rir do nosso aspecto!
Acabámos por pagar 140.000 meticais cada um pelo percurso Pemba-Monapo e mais 35.000 pelo chapa de Monapo até à Ilha. (NOTA: 1 euro = 30.000 meticais).

Mecula



Os transportes no norte de Moçambique tem custos obscenos. Pediram-nos 500 euros para nos levarem de Pemba à Ilha de Moçambique e nos irem buscar passados 3 dias. O aluguer de carros tinha preços semelhantes. Aliás, há várias excursões interessantes para fazer a partir de Pemba (como o Ibo, Pangane, Morrébué, Mareja, planalto Maconde) mas os preços são exorbitantes e facilmente se gastam umas centenas de contos. A culpa deve distribuir-se pela falta de concorrência, o estado das estradas (a maioria dos percursos implica passar por picadas) e os custos de manutenção dos veículos (não há mecânicos). Optámos então por fazer a viagem num machimbombo do Grupo Mecula. Foi a experiência mais marcante das férias, para o bem e para o mal!

Pemba



Esta viagem a África tinha 3 destinos prioritários: Maputo, Kruger Park e Ilha de Moçambique. O aeroporto mais próximo da Ilha de Moçambique - que fica a cerca de 2.000 km da capital, implicando por isso uma viagem de avião - é o de Nampula. No entanto, como para esta viagem aproveitámos os pacotes da Air Luxor, acabámos por ir para Pemba (ex- Porto Amélia) que fica a cerca de 420 km da Ilha.

Pemba é uma cidade recente, tendo sido fundada há cerca de 100 anos pela Companhia do Niassa. Apesar de ser um sítio simpático e ter uma localização fenomenal (está localizada na ponta de uma península que fecha a 3ª maior baía do mundo, logo atrás das de Sidney e Rio de Janeiro) não apresenta por si só um interesse especial. O trunfo de Pemba reside no facto de ser a capital da longínqua província de Cabo Delgado, que ocupa uma área equivalente à de Portugal e tem imenso potencial turístico: destacam-se a Ilha do Ibo e o arquipélago das Quirimbas em geral e o "cénico" e artístico povo Maconde. Ao contrário da paisagem de savana semi-árida característica do sul, na região de Pemba abundam os imbondeiros. As vistas são mágicas.

A abertura de um conjunto de hotéis pertencentes ao grupo sul-africano Rani Resorts desde 2002, entre os quais se encontra aquele em que ficámos alojados, acelerou o desenvolvimento turístico da região. Assim, de um voo semanal para Maputo operado pela LAM em 2000, passou-se para entre 3 e 5 voos diários tendo como destinos finais Maputo, Dar-es-Salaam (Tanzânia) e Joanesburgo (África do Sul). Esses voos são operados pela LAM e por uma nova companhia aérea, a Air Corridor.

A contrastar com o luxo dos hotéis estão as barracas omnipresentes. Mas a vingança é subtil: ao passo que o hotel em que ficámos, apesar de muito bom, fica a dever muito ao charme, este bairro de casas de barro com telhado de colmo e com imbondeiros, que me parecem árvores feitas de pedra, nos quintais transpira equilíbrio.

Pilgrims Rest



Pilgrims Rest foi uma vilazinha mineira até ao início dos anos 70. Quando a exploração aurífera deixou de ser rentável e as minas fecharam, o governo sul-africano decidiu transformar o local em atracção turística. Existe um pequeno museu em que se podem conhecer aspectos da vida quotidiana do princípio do século XX (a casa de uma família abastada, a mercearia, a garagem, o jornal da terra...) e se não estivéssemos em África estou seguro que teríamos encontrado o Lucky Luke.

Gods Window



O canyon ficava virado para nascente pelo que as fotografias não estão grande coisa. Mas o sítio é lindíssimo. Chegámos tão cedo que os vendedores ambulantes ainda estavam a dormir.

Sonos trocados



- Psst, estás acordado?
- Estou?
- Estás com sono?
- Não, e tu?
- Também não. Será que estas insónias são por causa da Mefloquina?
- É, se calhar.
(...)
- Olha, já que não conseguimos dormir, e que tal se nos puséssemos a caminho?
- Ó pá, mas ainda só são duas da manhã!
- Pois é.
(...)
- Sabes, acho que se calhar até é uma boa ideia.
- Então vamos lá.

Uma das características mais marcantes destas férias foram os horários. Após o pôr-do-sol, aí por volta das 5 da tarde, não havia nada para fazer. Está bem de ver, às 10 da noite já estava na cama!

Entre autocarros que saíam às 5 da manhã, comparências nos aeroportos às 6.30 ou passeios no Kruger com início às 5.30, foram várias as vezes que não tomámos o pequeno-almoço porque ainda não tinham começado a ser servidos (!!!) e várias outras em que fomos os primeiros a fazê-lo! Acordar bem disposto e voluntariamente às 6 da manhã passou a ser a norma.

O limite foi batido no Kruger Park. Saímos do hotel pouco passava das 2 da manhã para ir ver o nascer do sol a Gods Window, que ficava a cerca de 300 km de distância.

NOTA: A Mefloquina é a substância usada para a profilaxia da malária.