Mar Adentro, ou Um Olhar Sobre a Eutanásia
Aproveitando o fim de semana em Espanha, fui ao cinema ver Mar Adentro, o novo filme de Alejandro Amenábar (o mesmo que fez Tesis, Abre los Ojos e The Others).
É um filme biográfico sobre Ramón Sampedro (o homem que esteve mais de 30 anos agarrado a uma cama e que queria morrer mas não se conseguia matar), cuja história todos acompanhámos, na imprensa ou na TV, em documentários ou em debates, sempre com a eutanásia como pano de fundo.
Este é um tema obviamente complexo, que se enquadra, na minha opinião, naquela esfera que o Estado deve observar atentamente, mas deixar espaço aos indivíduos para tomar as suas decisões.
Ao longo de todo o filme, a opinião passada é também esta. No entanto, não o faz de ânimo leve nem com argumentos do género «a vida é minha e eu faço o que me der na cabeça com ela!». Fá-lo com cuidado e com consciência das implicações que o tema tem.
Ilustrativo disso é a figura do pai de Ramón Sampedro, que passa meio filme aparentemente alheado do tema (umas vezes aproveitando as defesas que o princípio de senilidade lhe oferece, outras mostrando que já percebeu mas prefere que pareça que não) e que quando menos se espera, a meio de uma discussão sobre os procedimentos jurídicos a seguir entre os advogados e a cunhada e o sobrinho de Ramón, se sai com esta:
«Lo único peor que se te muera un hijo es que tu hijo quiera morirse!»
[citado de memória, logo provavelmente mal citado... mas a idéia é esta]
E no entanto, ajuda-o sempre a avançar com a sua vida como ele pretende.
O filme é bom, apesar de ser totalmente diferente daquilo que estamos habituados a ver em Amenábar. Ele próprio afirmou ser o filme que mais gostou de fazer. Em minha opinião, não é seguramente o melhor filme que fez (porque é uma biografia e porque Abre los Ojos e Tesis são fantásticos), mas espero que tenha o mérito de reavivar a discussão sobre o tema.
Post Scriptum: Frase citada de memória na mesma, mas corrigida por nativa - «Lo único peor a que se te muera un hijo es que quiera morirse»; falhei por pouco! :D
1 Comments:
Entendo a eutanásia como um direito, que não sei se ousarei exercer, se um dia me vir numa situação desesperada.
Enviar um comentário
<< Home