quinta-feira, outubro 14, 2004

Ricochete

A fuga do Durão Barroso para a Comissão Europeia era apresentada em Junho como sendo muito positiva para o país. Eu sempre achei que a turbulência provocada cá nunca poderia compensar as eventuais "mais-valias" conseguidas por ter um tuga a ocupar um cargo que, em princípio, deve ser conduzido com imparcialidade. Acresce a isto que um senhor que era bastante mauzinho por cá, dificilmente poderia revelar grande competência em Bruxelas. Mas nunca se sabe, basta ver do que são capazes os emigrantes portugueses em França...

Passaram apenas quatro meses, não estando ainda o Fujão à frente da Comissão, e já começam as más notícias (em Bruxelas, porque aqui não foi preciso esperar tanto tempo, como é do conhecimento geral). Como a Comissão é aprovada em bloco pelo Parlamento Europeu e a rejeição pela comissão parlamentar especializada do comissário proposto por Itália não implica o seu afastamento (obrigado pelo comentário Molin), se calhar vamos mesmo ter de gramar com o Buttiglione à frente da pasta das liberdades e garantias.

Como bem dizia o António Costa (PS) num destes dias, é como ter um pirónamo a comandar o combate aos incêndios. Atendendo à situação calamitosa que se viveu nas florestas portuguesas em 2003 e em parte de 2004 (depois começou a chover) parece-me que o Fujão tem jeito para a coisa...

O boomerang foi para Bruxelas em Junho, mas o ricochete chega agora a toda a Europa e não apenas a Portugal...

A notícia completa aqui.

13 Comments:

Blogger JTF said...

E digo-te mais: já não me lembro onde é que li, mas o gajo diz que (por ele) não abdica do lugar de Comissário! Logo, ou o Durão se impõe (rir) ou levamos com o gajo (chorar)...

3:17 da tarde  
Blogger Miguel Pinto said...

Pois é...

4:11 da tarde  
Blogger molin said...

A mim, apetece-me acrescentar que "o que nasce torto, tarde ou nunca se (en)direita".

Depois de ler o artigo do Público, o cenário mais do que provável é, pegando nas palavras do JTF, chorarmos todos. Porque há sapos que terão de ser obrigatoriamente engolidos, para além de o acordo tácito (pelos vistos) entre os dois maiores grupos parlamentares europeus conseguir milagres.

Ou seja, o senhor Barroso terá de colocar a sua cabeça no cepo pelo italiano ultra-direitista e empenhar os tomates pelo húngaro de esquerda, para correr tudo bem... ou tudo mal. O senhor Barroso pode (embora seja muito menos provável) conseguir que, pela primeira vez (julgo eu) que uma Comissão seja chumbada. Fora de hipótese, claro, está a substituição dos respectivos representantes da Itália e da Hungria. "Era o que mais faltava", pensará Berlusconi. "O zé portuga que arranje uma solução, que foi para isso que foi empurrado para a presidência da Comissão", concluirá o mesmo multi-milionário chefe de governo.

Esta coisa de ser politicamente correcto em Bruxelas tem muito que se lhe diga...

5:50 da tarde  
Blogger JTF said...

De qualquer das formas, com tanto acordo tácito que há no Parlamento Europeu entre os dois maiores grupos de partidos, o melhor era recambiar os deputados para casa e trocá-los por máquinas de voto pré-programadas...

Os deputados limitavam-se a reunir uma vez por ano para renovar o acordo tácito (que passaria a chamar-se Acordus Tacitus) e recebiam ajudas de custo nesse dia. No resto do ano, recebiam uma Bolsa de Investigação para melhorar o Acordus do ano seguinte.

Outra hipótese era o insurgimento popular materializado num processo a esses partidos por abuso de posição dominante, ou por prácticas oligopolistas! Mas, claro... isso implicava que a malta não andasse toda a dormir, logo é inviável...

6:23 da tarde  
Blogger Miguel Pinto said...

Acho que deviam instalar as máquinas de voto da Flórida compradas em segunda mão. Talvez houvesse mais surpresas na votação...

10:56 da manhã  
Blogger Delfim said...

Desculpem a franqueza mas não percebo: afinal Durão Barroso é ou não mau?

Primeiro dizem que é mau, é fraquinho, ... E eu esforço-me por decorar: Durão mau. Durão fraquinho. Mas depois dizem-me que a turbulência que causa em Portugal é maior que qualquer mais valia que a sua ida para a comissão proporcione. Ainda mais como pode esse sr, ao mesmo tempo mauzinho e fraquinho, fazer de boomerang com ricohetes com impacto não só em Portugal mas por toda a Europa? É que fazer ricochetes por toda a Europa não é para qualquer meia-leca.

Por fim, para aumentar a minha confusão leio que 'o que nasce torto, tarde ou nunca se (en)direita'. Mas que significa isto? Tudo o que nasce torto é de esquerda? Que eu por ser de esquerda sou torto? Não concordo! Mas porquê? Tenho ou não o direito de achar que tudo o que não é de esquerda é facho? Sou torto por isso? Menos democrata? Obviamente que qualquer governo de direita que seja eleito resulta de manipulação do eleitorado ou falha electro-mecânica dessas máquinas de contar votos!

Vou ler mais umas páginas da biografia de Estaline, que essas ao menos não são tão confusas.

Saudação democráticas (de esquerda, claro).

abr,
PC (são mesmo as minhas iniciais!)

2:47 da tarde  
Blogger Ghibli said...

Caros JTF e Miguel Pinto:

Este post, bem esploradinho é capaz de bater o record de coments do do Porto vs Lisboa! Fico à espera! :)

3:23 da tarde  
Blogger JTF said...

'tás todo baralhado...

Isto é muito simples: o Durão era fraco, mas o Santana é péssimo!

Simples!

"A turbulência provocada cá" refere-se ao efeito de trocar o fraco pelo péssimo! Não se refere ao que o fraco fazia...

E essa turbulência é mais prejudicial para Portugal do que os supostos benefícios que o facto de o presidente da comissão ser português trará (a não ser que o gajo seja completamente faccioso na análise dos dossiers europeus e governe a comissão a pensar em Portugal primeiro e na Europa depois - se fizer isso não dura muito, como é lógico).

As simple as that.

Claro que tu tens direito a ter e manifestar a tua opinião e até mesmo a achar que os burros somos nós... Podes mesmo escrever isso aqui que a malta não apaga, nem se ofende! Até porque nunca lemos nada de Estaline (pelo menos eu - aliás, tenho até dúvidas que o gajo soubesse escrever). O Durão é que curtia essas merdas...

3:29 da tarde  
Blogger molin said...

Caro Delfim:

Experimente ler o meu comentário sem estar a fazer o pino e vai ver que estamos os dois na mesma margem do mesmo rio.
Ser de direita não significa, necessariamente, ser facho, assim como ser de esquerda não obriga a seguir os escritos de Lenine.

Eu lembro-lhe que Lenine foi o mesmo que disse que a verdade é tão preciosa que deve ser racionada. Quer maior pensamento de direita que este?

3:36 da tarde  
Blogger JTF said...

Ah! Só mais uma observação: o comentário das máquinas de voto referia-se ao modo de funcionamento do Parlamento Europeu e ao ridículo e anti-democrático que são os acordos feitos entre o Partido Popular (o do PSD) e o Partido Socialista (o do PS) europeus, que controlam uma altíssima percentagem da bancada e que institucionalizaram a rotatividade de cargos entre eles (não só o cargo de Presidente do Parlamento Europeu, como o do Banco Central Europeu e outros, mais operacionais e menos simbólicos - isto parece-me obviamente uma vergonha).

Não tinha nada a ver com a eleição democrática e transparente de governos de esquerda, centro ou direita seja eles quais forem.

3:36 da tarde  
Blogger Miguel Pinto said...

Escrevo um post, ausento-me, e quando regresso é isto!!! Francamente... Na verdade não tenho muito mais a acrescentar, o JTF tirou-me as palvras dos dedos.

O governo do Durão era mau. Este é péssimo. Espero que não esteja para vir pior. Para já vamos apanhando com as ondas que chegam de Bruxelas. Origem: Portugal e Itália (ainda não percebi o que se passa com o húngaro). Coitados dos cidadãos dos países desenvolvidos que têm de apanhar com esta confusão...

3:55 da tarde  
Blogger Delfim said...

JTF, afinal o nome do post estava melhor escolhido do que eu poderia de início imaginar!!

Costumo visitar o "Queimado no momento" exactamente porque acho que tem posts e comentários inteligentes (enfim ... nem todos, mas a maioria. :o) ), no entanto sempre muito concordantes entre si. Acho que a dialéctica é fundamental nestas coisas, por isso não resisti a colocar um comentário contra a corrente.

O prestígio de Portugal sai reforçado quando um português é eleito Presidente da Comissão Europeia pela maioria dos membros do Parlamento Europeu. Seja ele Durão Barroso ou tivesse sido António Vitorino.

Posso estar a ser injusto convosco mas parece-me que o facto deste português não ser da cor política 'correcta' faz com que desejem que se dê mal e que seja corrido.
Eu pelo contrário, como sou um democrata ( JTF, não resisto!... :o)) ), faço votos para que desempenhe bem o cargo. Assim como me orgulho do trabalho desenvolvido por António Vitorino à frente das pastas da justiça e dos assuntos internos em Bruxelas.

Ah! E não estava a fazer o pino. Era o meu reflexo no rio. Estou de facto na outra margem. Mas não há problema. Há pontes. Para vos vir visitar!

Saudações democráticas,
PC

7:43 da tarde  
Blogger JTF said...

Acho que me interpretaste mal: essa dialéctica é exactamente o que procuramos. Senão, muitas das vezes, escreveriamos as coisas de uma forma menos provocativa...

Nós procuramos gerar discussão e não palmadas nas costas! Se a ideia não fosse procurar o debate, desactivávamos os comentários.

Abraço e bom regresso ao mundo dos blogs!

7:50 da tarde  

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