Apocalipse
Algumas manchas perdidas de alcatrão permitem perceber que o piso nem sempre foi areia
As fachadas dão a entender que em tempos idos foram outros os habitantes
O tribunal revela que a Ilha já teve outra dimensão
Hoje já não há quem mergulhe
A Ilha de Moçambique foi capital do país até 1898, ano em que essa função passou a ser desempenhada a partir de Lourenço Marques. Enquanto nos séculos XV e XVI a superioridade naval dos portugueses aconselhava a criação de entrepostos em ilhas próximas da costa – que permitiam simultaneamente manter o comércio e eram mais fáceis de defender de ataques por terra –, no final do século XIX a ameaça mais imediata era a da anexação da Delagoa Bay (Baía de Maputo) pelos boers. A exiguidade de espaço na Ilha de Moçambique também deve ter contribuído para a decisão de transferir a capital.
A lenta decadência da Ilha de Moçambique foi acelerada pela saída repentina dos colonos em 1975 e posterior ocupação dos edifícios pelos deslocados de guerra. A maioria da Ilha faz lembrar alguns cenários de filmes pós guerras nucleares em que os sobreviventes vivem dos restos das sociedades anteriores mas regrediram tanto que não entendem o que vêem. A Ilha de Moçambique é assim um sítio em que o presente tem pouca importância: ali existiu um passado, ali há potencial de futuro (de que alguns novos hotéis e projectos de recuperação são indício). Na Ilha de Moçambique somos permanentemente levados a viajar no tempo, o presente é insuficiente.
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