Parede...como ela é.
Hoje de manhã, caminhando para a estação, pude ouvir a doce música que, por vezes, o dia tem para nos dar.
Já quase a chegar, passei pelo Eduardo das Conquilhas...alguns de vós conhecerão, outros nem tanto. O Eduardo é uma cervejaria que abre portas à Parede há já várias décadas...ameijoa, conquilha, imperial e coisa que tais, são o que por lá se vende mais.
O sítio não é grande, como também já nem grande coisa é...O chão de pedra, o balcão comprido, as mesas pequenas e os guardanapos daqueles finos, quase papel vegetal, enfiados num copo, enrolados, formando um cone invertido...tudo isso é Eduardo das Conquilhas.
Às 7 e meia da manhã, uma senhora, perna baixa e arqueada, cara enrugada e bata exactamente como essa com que a vestiram assim que pensaram nisso (azulinha, às flores piquenas...colorida e com pó)...limpava os vidros da porta de entrada 'pró Eduardo...e lá a vi...pano acima, pano abaixo, cantando "Besame...besame mucho...como se fuera esa noche la ultima vez...BESAME...besame mucho..."...
Pensei e senti que o dia hoje estava para o mundo.
Já na estação, ecoaram palavras que me chamaram para ali...um vagabundo saltimbanco gritava ao mundo o sentido que lhe vinha...ouvi dizer:
"Maria...nunca nasceste...nunca hás-de morrer"...
E o som dessas palavras deixou-me muribundo...enquanto nós, de bacalhau ao pescoço esperávamos o quim 'prá lavoura, outro urrava ao céu uma angústia meio contente...
E tanto tinha aquela frase...era mais que o que parecia...o desterrado tanto tinha para dizer à rua. ao mundo.
Mais visto e chegado, agucei a orelha...era desgosto afinal...o uivo contava:
"Maria...puta nasceste....puta hás-de morrer!"...
E quando finalmente clareei e bebi bem o que berrava, foi aí, nesse instante, que o Aleixo da Parede completou o ramalhete:
"Maria...puta morreste...puta hás-de morrer. Que Deus te abençoe!"
E foi nessa altura, na rua, de ramalhete feito, que um pensamento se me cuspiu pela boca...Parede: sítio que Cesário tanto gostaria de ter visto!
Sorri. Vinha lá o combóio.
Já quase a chegar, passei pelo Eduardo das Conquilhas...alguns de vós conhecerão, outros nem tanto. O Eduardo é uma cervejaria que abre portas à Parede há já várias décadas...ameijoa, conquilha, imperial e coisa que tais, são o que por lá se vende mais.
O sítio não é grande, como também já nem grande coisa é...O chão de pedra, o balcão comprido, as mesas pequenas e os guardanapos daqueles finos, quase papel vegetal, enfiados num copo, enrolados, formando um cone invertido...tudo isso é Eduardo das Conquilhas.
Às 7 e meia da manhã, uma senhora, perna baixa e arqueada, cara enrugada e bata exactamente como essa com que a vestiram assim que pensaram nisso (azulinha, às flores piquenas...colorida e com pó)...limpava os vidros da porta de entrada 'pró Eduardo...e lá a vi...pano acima, pano abaixo, cantando "Besame...besame mucho...como se fuera esa noche la ultima vez...BESAME...besame mucho..."...
Pensei e senti que o dia hoje estava para o mundo.
Já na estação, ecoaram palavras que me chamaram para ali...um vagabundo saltimbanco gritava ao mundo o sentido que lhe vinha...ouvi dizer:
"Maria...nunca nasceste...nunca hás-de morrer"...
E o som dessas palavras deixou-me muribundo...enquanto nós, de bacalhau ao pescoço esperávamos o quim 'prá lavoura, outro urrava ao céu uma angústia meio contente...
E tanto tinha aquela frase...era mais que o que parecia...o desterrado tanto tinha para dizer à rua. ao mundo.
Mais visto e chegado, agucei a orelha...era desgosto afinal...o uivo contava:
"Maria...puta nasceste....puta hás-de morrer!"...
E quando finalmente clareei e bebi bem o que berrava, foi aí, nesse instante, que o Aleixo da Parede completou o ramalhete:
"Maria...puta morreste...puta hás-de morrer. Que Deus te abençoe!"
E foi nessa altura, na rua, de ramalhete feito, que um pensamento se me cuspiu pela boca...Parede: sítio que Cesário tanto gostaria de ter visto!
Sorri. Vinha lá o combóio.
4 Comments:
É uma das coisas de que às vezes me lembro, aquela sensação de viver numa polis-manicómio, que me trespassava a mente de cada vez que no comboio vinham 2 ou 3 malucos a dizer disparates e, invariavelmente, se apeavam na Parede!
pois... pelas minhas bandas não há comboio, é mais longas madrugadas de bruma, a humidade a entranhar-se nos sentimentos confundidos pelo triste basalto, e os miolos de antero de quental espalhados pelo campo de s. francisco (hoje, praça 5 de outubro).
cada qual com a produção literária que lhe calha na rifa ;)
(este é daqueles posts que não apetece comentar para não estragar...)
Obrigado Delfim!
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