quarta-feira, março 08, 2006

Os nossos beneméritos 4

A construção de uma central nuclear em Portugal nunca estaria concluída em menos de uma década. Somemos-lhe 50 anos de vida útil. Após o fim da produção é necessário construir um sarcófago no local por forma a conter as radiações. Pensa-se que só ao fim de mais 40 ou 50 anos é possível abrir esse sarcófago e começar a desmantelar a dita. Tudo somado dá mais de um século. E depois ainda vêm uns quantos milhares de anos de resíduos nucleares activos cuja monitorização é conveniente.

Levantam-se aqui duas grandes questões.

A primeira é a de saber quem paga estas tarefas, de custos incalculáveis porque ainda não realizados até ao momento, daqui a tantos anos. A dita "iniciativa privada"? Ou o Estado, ou seja, os que por cá estiverem? Não admira que certos cálculos apresentem um custo de produção de enrgia nuclear tão baixo: os "por nascer" que paguem!

A segunda é a de saber se se pode garantir estabilidade política por tanto tempo por forma a que num futuro longínquo seja possível garantir a existência de conhecimentos técnicos e recursos económicos suficientes para proceder ao desmantelamento e monitorização da situação. Eu espero que sim. Os promotores da construção da central assumem que sim. E entre estes dois pontos de vista vai uma grande diferença...

É esta a herança que queremos deixar a quem por cá estiver?

O Le Monde de hoje traz uma notícia bem a propósito...

Un million de mètres cubes de déchets nucléaires présents en France

La France concentrait 1 032 717 m3 de déchets nucléaires sur son sol au 31 décembre 2004. En 2020, ce volume devrait avoir doublé. Au-delà, "les estimations deviennent particulièrement fragiles, car dépendantes de l'avenir (...) de la production électronucléaire", indique l'Agence nationale pour la gestion des déchets radioactifs (Andra), qui a rendu public, mardi 7 mars, l'inventaire national 2006 des déchets nucléaires et matières valorisables (www.andra.fr).

Ces déchets sont issus pour leur majorité de l'industrie nucléaire (62,5 % du volume), de la recherche (24,1 %), de la défense (10,1 %), de l'industrie non nucléaire (3,1 %) et du médical (0,2 %). Ce deuxième inventaire, qui présente un état des lieux à fin 2004, répertorie 899 sites contenant des déchets radioactifs, contre 856 dans l'édition précédente portant sur 2002.