sexta-feira, novembro 05, 2004

Porque é que eu não gosto do Bush?

Esta manhã, no Metro, a caminho do trabalho, um jovem sentado à minha frente, espreitava por cima e por baixo do meu Público, a tentar ler algo que eu não percebia o que era.

Estando a chegar ao meu destino, guardei o jornal.

O jovem, com um olhar impaciente e preocupado, perguntou-me: «O Arafat já morreu?...». Expliquei-lhe que, aparentemente, só aguardavam o momento certo para o comunicar, porque parecia estar em coma, em estado de morte cerebral e que, aparentemente, não havia retorno possível. A impaciência diminui, mas o ar preocupado agravou-se. Agradeceu-me, despedimo-nos e saí.

No pequeno trajecto a pé dei por mim a pensar: o jovem era preto (ou de cor, ou negro, como as pessoas que se sentem desconfortáveis com a diferença gostam de dizer...) e estava-me a perguntar pelo estado de saúde do líder palestino. Nos EUA, existe uma lei, feita pela administração Bush, que defende que eu deveria alertar as autoridades para este «estranho e potencialmente perigoso» comportamento...

Esta é a Razão #1 (por ser a primeira que me lembrei e não por ser a principal) para eu não gostar de Bush. Existem mais. Talvez um dia as ilustre aqui.

5 Comments:

Blogger Delfim said...

A lei é absurda mas há que tentar perceber o que a motivou: o desvio e o consequente despenhar de aviões carregados de civis contra edifícios. E Arafat festejou-o, o que é ainda mais absurdo.

A História certamente não confundirá Arafat com Gandhi ou Mandela...

8:39 da tarde  
Blogger mfc said...

Patético!
Quanto ao comentário anterior, é falso que Arafat tenha festejado o ataque ao WTC.
´`A falta de argumentos, a mentira não vale!

1:47 da manhã  
Blogger Delfim said...

mfc permita-me um comentário ao seu comentário.

Não concordo com a sua últma frase porquanto o que escrevi no meu comentário reflete a minha interpretação dos factos e não uma tentativa de intoxicação intencional dos mesmos.

Passando a explicar o que quero dizer: todos tivemos oportunidade de ver reportagens do povo palestiniano nas ruas a celebrar os ataques terroristas.
Algum tempo depois, Arafat condenou perante a opinão pública internacional os ataques e creio mesmo que foi filmado a dar sangue para as vítimas dos atentados. Internamente a autoridade palestiniana proibiu filmagens dos festejos.
A interpretação que faço destes factos é que Arafat criticou para o exterior os ataques mas foi conivente internamente com os festejos do seu povo. Parece-me que Arafat só reagiu quando foi pressionado e quando se apercebeu que os festejos eram prejudiciais à sua causa.
Arafat sempre manteve com os grupos terroristas uma posição no mínimo dúbia e desta forma nunca conseguiu explorar o facto de Israel se ter transformado ao longo dos tempos de David em Golias no Médio Oriente.
Só nos últimos tempos Arafat mudaria o posicionamento da autoridade palestiana começando a criticar os ataques terroristas e passando a mensagem que estes dificultavam a formação de um estado palestiniano.

Este seu caminhar em zig-zag atrasou a sua luta, levantou sempre sérias dúvidas na comunidade internacional relativamente às suas reais intenções e, continuo a dizê-lo, distancia-o de outros líderes que serão recordados pela História como símbolos de lutas justas pelas aspirações dos povos à sua liberdade e autodeterminação.

Isto é no entanto a minha leitura dos factos. Outras diferentes existirão certamente.

12:07 da tarde  
Blogger molin said...

Lamento informá-lo, meu caro Delfim, mas o Mundo já contribuiu para que Arafat fosse, no mínimo, comparável a Ghandi e a Mandela, ao atribuir-lhe o Prémio Nobel da Paz em 1994.

A questão é que poderá ficar na dúvida de muita gente no Ocidente qual dos dois papéis lhe coube na contenda israelo-palestiniana: se de traído pelos seus colaboradores mais directos, que pela frente combatiam os ataques terroristas e lutavam pela legitimação da autoridade e território palestinianos, mas por tràs davam ordens de execução os peões-suicidas; ou se, pelo contrário, fez o papel de traidor, manobrando nas costas do Ocidente todas as facções extremistas e radicais.

Na dúvida, leva lá o Prémio Nobel. Os israelitas parecem ser os únicos a acreditar na segunda versão.

7:34 da tarde  
Blogger Delfim said...

Mas também Henry Kissinger e Le Duc Tho foram galardoados com o Nobel da Paz.

Um (tendo ou não sido o mentor da 'iniciativa') fazia na altura parte da administração americana que largou no Vietname, em poucos dias, bombas equivalentes a 10 vezes a potência da bomba de Hiroxima, numa última tentativa de obter um acordo de paz mais favorável(!) e o outro recusou inclusive o prémio por ainda estar em guerra...

Por outro lado, apesar de nomeado por cinco vezes entre 1937 e 1948, Gandhi nunca recebeu o Nobel da Paz! Apenas uma referência em 1989, na atribuição do Nobel ao Dalai Lama, quando o presidente do comité disse que o prémio era "em parte um tributo à memória de Mahatma Gandhi".

Em 1895 Alfred Nobel, ao instituir o prémio, pretendeu que o mesmo fosse atribuído à pessoa que maior ou melhor trabalho tivesse desenvolvido em prol da fraternidade entre nações.

A maioria das atribuições do Nobel da Paz terá seguido o espírito original, no entanto outras houve em que as motivações políticas da época foram quem as determinou. Se calhar bem, atribuindo o prémio às duas partes beligerantes, como forma de incentivo à Paz, mais do que para premiar o trabalho dos indivíduos galardoados em prol da tal fraternidade entre nações.
Mas isso faz com que nem todos os galardoados sejam comparáveis ou as suas escolhas consensuais.

5:13 da tarde  

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