Facto Político da Semana
Históricos da ETA apelam ao abandono das armas
Seis dos principais dirigentes históricos da ETA endereçaram à actual direcção da organização uma carta, subscrita por outros 100 etarras presos, onde apontam para o esgotamento do actual modelo de actuação e preconizam o fim da violência.
Consideram que o movimento está mais fragilizado que nunca, que foi submetido pelo inimigo e que está actualmente incapacitado de obter uma posição relativa que lhe permita negociar com o poder central.
Afirmam mesmo que "A luta armada que hoje desenvolvemos não serve, isto é morrer a fogo lento".
No entanto, consideram que "deve ser a esquerda abertzale [radical e afim aos etarras], com os instrumentos da sua organização política, quem deve definir a estratégia e táctica para alcançarmos os nossos objectivos como povo".
É uma janela que se abre inesperadamente e que espero que represente o início do fim da violência e o nascer de uma nova era de progresso social, tolerância e multi-culturalismo na sociedade espanhola.
Aguardemos com esperança novos desenvolvimentos!
P.S. Não... o facto político da semana, em meu entender, não são as eleições desta noite... o povo americano escolheu ignorar o mundo e eu, socorrendo-me do princípio do contraditório, escolho ignorar as eleições americanas. Toma!
Caso alguém da blogosfera nacional tenha o pouco saudável hábito de ler este blog, o que não é muito provável, aqui fica o repto para todos fazermos o mesmo! Até podiamos pedir ao Barnabé para desenvolver um banner de protesto!
Seis dos principais dirigentes históricos da ETA endereçaram à actual direcção da organização uma carta, subscrita por outros 100 etarras presos, onde apontam para o esgotamento do actual modelo de actuação e preconizam o fim da violência.
Consideram que o movimento está mais fragilizado que nunca, que foi submetido pelo inimigo e que está actualmente incapacitado de obter uma posição relativa que lhe permita negociar com o poder central.
Afirmam mesmo que "A luta armada que hoje desenvolvemos não serve, isto é morrer a fogo lento".
No entanto, consideram que "deve ser a esquerda abertzale [radical e afim aos etarras], com os instrumentos da sua organização política, quem deve definir a estratégia e táctica para alcançarmos os nossos objectivos como povo".
É uma janela que se abre inesperadamente e que espero que represente o início do fim da violência e o nascer de uma nova era de progresso social, tolerância e multi-culturalismo na sociedade espanhola.
Aguardemos com esperança novos desenvolvimentos!
P.S. Não... o facto político da semana, em meu entender, não são as eleições desta noite... o povo americano escolheu ignorar o mundo e eu, socorrendo-me do princípio do contraditório, escolho ignorar as eleições americanas. Toma!
Caso alguém da blogosfera nacional tenha o pouco saudável hábito de ler este blog, o que não é muito provável, aqui fica o repto para todos fazermos o mesmo! Até podiamos pedir ao Barnabé para desenvolver um banner de protesto!
8 Comments:
Uma notícia política boa, finalmente!
Quanto ao Outro assunto, estava a achar estranho ninguém falar disso nos blogs, agora já compreendi: é o poder da tua influência blogosférica a fazer-se sentir!:))
O comunicado da ETA é mesmo um dos acontecimentos mais relevantes da semana, do mês, do ano. Para os bascos ainda mais que isso. Fico muito contente.
No Sábado fui ver um documentário ao DocLisboa sobre o País Basco. Chamava-se "la pelota vasca - la piel contra la piedra" e foi um êxito de bilheteira em Espanha. Passado um ano começa a ficar desactualizado: primeiro o governo do PP (principal interessado na radicalização da situação) foi à vida; segundo, esta tomada de posição por parte da ETA.
Há semanas em que nem tudo corre mal...
Se fosse castelhano (oooppps, desculpa JTF, não é ofensivo o que vou dizer, prometo!), juro que ficaria com uma sensação amarga na boca por esta estupenda vitória da racionalidade sobre o terrorismo que, diga-se, nos últimos tempos estava a ficar um pouco aleatório, poder ser encarada como conseguida já nos descontos de tempo.
Dá-me ideia que, com toda a rapidez com que a ETA ficou sem os seus maiores cérebros num curtíssimo espaço de tempo, tudo podia ter sido feito antes. Numa leitura muito superficial (admito), acho que tudo foi acelerado pelos acontecimentos de 11 de Março, numa colaboração entre a polícia espanhola e francesa. De repente, são todos engavetados e a já debilitada estrutura hierárquica da ETA fica sem cabeça e sem mandantes que digam: o próximo alvo é este e é assim que vai acontecer.
Corriam muitas teorias, que tive oportunidade de ler, nomeadamente a de um deputado do PP em San Sebastian (ou Donostia), que dizia que se podia correr o risco sério de os operacionais da ETA, estando à solta e sem quem os liderasse nos atentados, pudessem atacar indescriminadamente e se tornasse ainda mais violenta.
Parece que o tema do terrorismo, de repente, virou uma prioridade SÉRIA de Espanha e França (afinal, a delimitação do país vasco ainda abrange território francês...). De repente, numa acção conjunta, o topo da pirâmide etarra fora decapitada.
Acredito que nada disto tenha sido conseguido em dois dias e que tudo possa resultar de anos de investigação e de tentativas (algumas, se não muitas) vezes frustradas de conhecer o modus operandi da ETA. Li que muitos dos etarras percorriam mais de 50 km para fazer uma chamada, deitavam depois o cartão e o telemóvel fora (em locais separados) e voltavam à base de operações. Mas também li que a polícia francesa já há algum tempo que sabia a forma como e quem financiava a ETA.
Mas como se costuma dizer, mais vale tarde do que nunca. Mesmo assim convém, aos castelhanos, ainda não dormirem descansados. Podem, talvez, respirar um pouco de alívio, mas com certeza que os guarda-costas vão continuar a fazer o seu trabalho juntos dos deputados populares e socialistas no país Vasco e a controlar as entradas nas redacções do "El País" e do "ABC".
No Prós e Contras da segunda-feira passada, ouvi Ângelo Correia falar sobre o problema do terrorismo, embora num contexto diferente da ETA. No entanto, o princípio é o mesmo: o sucesso no combate ao terrorismo não está nas acções militares preventivas ou nos derrubes dos regimes proteccionistas deste tipo de luta armada. Está, isso sim, na tentativa de circunscrever o terrorismo a uma campo de acção, formação e proliferação o mais reduzido possível. Mostrar ao Sudão, à Arábia Saudita, ao Iraque, ao Irão e a outros que tais que matar para reivindicar é a morte da prória sustentabilidade da reivindicação. É óbvio que não podem ser os israelitas a tentar mostrar isso aos arábes (e muito menos agora os americanos).
Bolas, isto já vai longo...
Termino como o post.
P.S. Também acho que o facto político não são as eleições nos States. Quanto a isso, cada um merece o que elege. É pena é que, num país supostamente tão democrático, desenvolvido e avançado como são os Estados Unidos, seja preciso que um dos candidatos ande a pregar aos eleitores coisas que não defende, para ver se ganha as eleições. Quer isto dizer que John Kerry foi "obrigado" a vender a imagem no Ohio que é a favor da posse de armas. É a diferença entre o far-west bushiano e responsabilidade conscenciosa de quem acha que quem tem uma arma é um potencial homicida, quanto mais não seja por legítima defesa. Nesta perspectiva, sobrevive o que for mais rápido a sacar e a disparar... certeiro.
Será que o Estado centralista estará em condições de compreender a mensagem?
molin: de facto, tudo começou a ser mais fluido com a colaboração do governo francês. Só um reparo - essa colaboração vem de antes do 11 de Março. Terá, talvez, 5 ou 6 anos... Mas, a verdade, é que o País Basco francês foi, durante muitos anos, uma espécie de santuário e base de operações...
A grande dúvida, daqui para a frente, parece-me ser aquilo que o mfc referiu - o que é que o Governo Espanhol, mas também o Governo Basco e a esquerda abertzale Basca fará com esta carta - que interpretações e consequências terá? A bem do povo espanhol, do povo basco e do multi-culturalismo, esperemos que não seja uma oportunidade perdida. Veremos...
O povo vasco deve estar cansado de tantos anos de luta armada e de tantos anos de silêncio contraditório com as acções de guerrilha da ETA. As marchas silenciosas sempre foram uma gota de água no oceano reivindicativo, quando depois, na clandestinidade, eram (muitos deles) "obrigados" a colaborar cada um à sua maneira com um tipo de luta com a qual não concordavam.
Podem, e muito bem, aproveitar estes ventos de mudança e rumar a outro tipo de afirmação autonómica, porventura, mais eficiente do que o terror envolvendo muitas vezes inocentes (mesmo os alvos escolhidos estão muitas vezes a cumprir directrizes do governo central de Madrid).
Aponto, por exemplo, o caso da Catalunha. Tão ou mais nacionalistas (leia-se independentistas) que os vascos e nem por isso recorreram ao mesmo tipo de luta sanguinária. As movimentações intelectualmente superiores dos catalães colocam-nos numa posição de elevação - até perante o próprio executivo castelhano - que muito pouco ou nada poderá ser feito para o contrariar. E não me estou a referir ao potencial económico-financeiro da região, mas a uma própria identidade cultural que faz da Catalunha uma região separada do resto da Espanha. A independência activa vê-se por pequenos pormenores. Muita pouca gente sabe, por exemplo, que o próximo Mundial de hóquei em patins, que se vai realizar em San José (California), no próximo Verão, poderá ter a participação da selecção de Espanha e de outra da Catalunha, participação legalmente ractificada pela Assembleia Geral da FIRS (Federation Internationale de Rollers Sports).
Só para rematar, o próprio Franco já deve ter dado umas quantas voltas à tumba, arrependido do que fez do país vasco. Sim, porque na minha opinião, foi ele que criou ã região tal qual como hoje a conhecemos, independentemente dos ideais independentistas já virem mais de trás. Ninguém o mandou instalar a indústria pesada metalo-mecânica naquela região, fazendo dela umas das mais lucrativas de Espanha. Quis castigá-los (eventualmente, isto já sou eu a divagar...) com os trabalhos mais pesados e mais poluentes, mas não se lembrou da vertente económica da questão. Curiosamente, a Espanha debate-se com um problema sério em termos económicos: se não fossem as províncias mais ricas a contribuir para o erário público e, simultaneamente, as que mais têm anraízado o espírito independentista no seu sangue (Catalunha, País Vasco e Galiza) o que seria, financeiramente falando, da Espanha?
Mas vou ler mais sobre os primórdios destas questões para saber onde e como quando tudo começou. Alguma sugestão JTF?
Infelizmente não tenho nenhuma sugestão para te dar... mas vou investigar.
Talvez te possa ajudar a procurar saberes que tudo começou quando o País Basco apoiou a facção perdedora nas guerras carlistas e perdeu uma série de benefícios que detinha, na sequência desse apoio.
Depois desse período surgiu Sabino Arana, fundador do Partido Nacionalista Vasco. Um tipo extremamente racista, com um conjunto de idéias baseadas na pureza basca e que marca o início do nacionalismo basco moderno. Condenava, por exemplo, o casamento de bascas e bascos com não-bascos, apesar de ele próprio ser casado com uma asturiana, se não me engano...
Depois vem a Guerra Civil e os bascos estão maioritariamente do lado republicano. Guernika marca esse período e torna-se no acontecimento mais chocante da guerra e no mais impressionante quadro que eu vi na vida!
A ETA surge durante o Franquismo. Esse período, além da tal conversão da economia basca em coração industrial de Espanha, caracteriza-se pela proibição do Basco como idioma e por uma forte repressão política e cultural, à imagem do que aconteceu no resto do país. A ETA começou por ser um movimento revolucionário com algum apoio fora do País Vasco, devido a ser um símbolo da oposição a Franco. No entanto, com a democratização do país e com a recuperação dos instrumentos autonómicos e do idioma perdeu boa parte da sua base de apoio e entrou num tipo de acção diferente, que todos conhecemos.
A partir daí existem outros episódios interessantes, como os GAL, a deslocalização dos presos da ETA, etc. que merecem ser pensados.
O meu conhecimento resume-se um pouco a isto. Tenho uma ideia geral da questão, mas que nunca cheguei a aprofundar... Mas agora que debatemos o tema começo a ficar picado! Pode ser que me dedique a estudar isto em maior profundidade!
Abraço
Nada como sermos desafiados para aumentar a base de conhecimento. Nunca é demais saber sobre tudo, quanto mais não seja para falarmos com alguma propriedade sobre as questões que mais nos interessa.
Eu gosto do País Vasco, como região (tem das melhores auto-estradas em que alguma vez andei), e tem uma beleza paisagística singular. Muito verde. Mesmo muito verde. Acho que há lá mais qualquer coisa para além das festas de Pamplona (eternizadas pelo Hemingway), das tapas vascas, dos bares do centro histórico de San Sebastian e da curiosa urbanidade do Bilbao com o esplendoroso Guggenheim (sem dúvida um dos edifícios modernos mais espectaculares que já visitei - duas vezes).
A primeira vez que lá fui tive uma espécie de sensação de paz podre, mas na segunda já me senti melhor e as seguintes foram de satisfação total.
Vou pesquisar também e depois digo-te alguma coisa.
Abraço
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