terça-feira, junho 28, 2005

Os galegos chutaram o franquismo

Ontem foi um dia feliz para a Galiza. Manuel Fraga deixou de ser presidente da Junta não por ter caído da cadeira mas porque uma maioria de galegos votou contra a forma de estar e fazer política de um PP herdeiro de muitos dos tiques do franquismo. E não ter sido uma inevitabilidade da natureza – como aconteceu com Franco e Salazar – mas uma escolha popular é um factor de grande importância em termos políticos. Atrasadíssima, mas que me alegra. A partir do próximo mês o presidente da Junta não será mais um antigo ministro de Franco, será um democrata; não será um velho antiquado, será um homem dos tempos de hoje; não será o testemunho de um decadente e opressor mundo rural, vem do que melhor a Galiza urbana tem para mostrar. (Ainda por cima Emílio Peréz Tourinho é economista!!!!!)
O próximo governo da Galiza é o reflexo de uma profunda vontade de mudança de uma sociedade dual, em que um grupo mais dinâmico foi até agora puxado para trás por uma pesada herança de subdesenvolvimento que é aquele imenso mundo rural. O próximo governo, que será resultado de uma frágil coligação parlamentar entre o Partido Socialista dos Galegos e o Bloco Nacionalista Galego, não terá uma vida fácil. Nem desde fora nem desde dentro, parece-me.
Pela minha parte, espero que a Galiza comece a preparar-se para dar o salto que a aproxime do resto de Espanha. E aguardo ansiosamente que as duas margens do Minho se aproximem um pouco mais. Parabéns Galiza.

NOTA 1: Mais info sobre as eleições galegas em www.vieiros.com
NOTA 2: Em 1936, no dia de hoje, os galegos aprovavam em referendo um estatuto de autonomia que nunca chegaria a entrar em vigor devido ao golpe de estado franquista que ocorreria duas semanas depois. Dupla razão para celebrar.

8 Comments:

Blogger Delfim said...

Não percebo. Quem foi o partido mais votado?

Que conceito de democracia mais engraçado...

8:20 da tarde  
Blogger JTF said...

Chama-se coligação pós-eleitoral e é um conceito muito em voga na direita portuguesa (que, se bem recordas, se preparava para fazer o mesmo nas últimas legislativas... correu mal!).

10:59 da manhã  
Blogger Delfim said...

Em Portugal sempre foi chamado a formar governo o partido mais votado.

Aí não creio que, nem à esquerda nem à direita, Portugal tenha qualquer défice democrático.

2:24 da tarde  
Blogger Martin Pawley said...

Moi engraçado, si, delfim. Consiste en que cando un partido non ten a maioría parlamentaria suficiente para formar governo, as outras forzas intentan chegar a un pacto estábel. O PSOE e o BNG superan en conxunto por mais de cen mil votos ao PP; parece bastante lexítimo que acorden o governo de Galiza, non lle parece?

6:36 da tarde  
Blogger Delfim said...

A menos que o PP tenha sido convidado a formar governo (o que creio não ter acontecido), não concordo consigo. Em Portugal basta um partido ter maioria parlamentar para poder formar governo. O que o Martin denomina 'maioria parlamentar suficiente' é o que chamo maioria absoluta, i.e., maioria com mais de 50% do parlamento.

Sou da opinião que quem ganha as eleições é sempre o partido mais votado e deverá portanto ser ele em primeiro lugar o convidado a formar governo. Só na impossibilidade de tal acontecer é que deveremos passar a outras soluções alternativas.

E a estabilidade desse pacto só o futuro a poderá confirmar...

Agora obviamente competirá aos galegos decidirem como formam os seus governos. Eu limito-me a opinar. :o)

7:27 da tarde  
Blogger JTF said...

Não é inteiramente verdade que cá seja assim. O PR pode convidar a formar Governo quem quiser! Até o partido menos votado... A questão na Galiza é igualzinha à que se teria posto se o PS tivesse ganho com maioria relativa e o PSD e o PP juntos tivessem maioria absoluta: na consulta do PR aos Partidos, se eles se apresentassem assim o PR teria entregue o poder à coligação pós-eleitoral PSD/PP, já que nenhum outro cenário seria viável no Parlamento. Na Galiza a questão é a mesma.

8:24 da tarde  
Blogger Delfim said...

Em Portugal sempre foi chamado a governar o partido mais votado, ainda que não tivesse maioria absoluta no parlamento e outros coligados o pudessem ter.

Acho que é o funcionamento adequado em democracia. Válido tanto à esquerda como à direita.

Mas isto é a minha opinião e em democracia é bom que existam outras divergentes.

2:56 da tarde  
Blogger JTF said...

Mas eu não estou a negar isso... Só estou a dizer que havendo uma coligação pós-eleitoral com maioria na Assembleia, mesmo sem que nenhum dos seus membros tenha ganho as eleições, o Governo ser-lhe-á obviamente entregue. Ninguém pode governar contra uma maioria absoluta... O que nunca aconteceu em Portugal foi aparecer tal coligação... Mas, reitero, era o cenário que PP e PSD se preparavam para pôr em prática se nas últimas eleições o PS tivesse ganho com maioria relativa, mas houvesse maioria de direita na Assembleia. Não tenho qualquer dúvida! E seria democraticamente legítimo... Aliás, nos modelares países nórdicos é prática corrente!

7:08 da tarde  

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