quarta-feira, junho 15, 2005

Eu nem ia escrever sobre isto...

... sobre as 3 mortes de notáveis deste fim-de-semana...

Porquê? Porque estes momentos estão repletos de lugares-comuns e porque prefiro que escreva quem tem verdadeiramente alguma coisa a dizer.

No entanto, há uma memória que não me sai da cabeça nos últimos dias e que preciso de exorcizar.

Há uns anos, creio que em 98 ou 99, um grupo de amigos meus organizou uma conversa no ISEG com o Álvaro Cunhal. Eu penso que foi por volta de 98 ou 99 porque pelo que me lembro eu ainda era aluno, mas já por lá parava pouco... mas a verdade é que pode ter sido noutra altura... Enfim! Não é relevante! O que é um facto é que Cunhal já estava afastado da cena política activa e estava já bastante mais velho do que eu previa. Estava mais ou menos como aqui:



E a verdade é que por mais voltas que dê à cabeça, não me consigo lembrar do tema da conversa ou se existia sequer tema, nem do que é que Cunhal nos disse ou do que nós lhe dissémos a ele.

A única coisa de que me lembro é de me sentir totalmente esmagado!

Esmagado pelo olhar inteligente e observador de Cunhal (apesar das cataratas que já o atormentavam) e pela sua presença imponente e solene.

Esmagado pela sensação de estar a contemplar um capítulo da História.

Esmagado pela serenidade do homem, que tanto contrastava com a tese já então em voga de que se tratava de um homem derrotado pela História.

E esmagado pela expressão na face de todos aqueles que o contemplavam, que seria provavelmente também a minha, e que independentemente do posicionamento político que tivessem exalavam um profundo respeito pela figura que tinham à frente.

De resto lembro-me apenas da inesperada afabilidade, descontracção e quase intimidade com que decorreu toda a sessão...

Ah! E lembro-me também dos poucos minutos em que conversámos já depois da sessão acabar e de um amigo comum nos ter apresentado. No final da conversa escreveu-me uma dedicatória, na primeira folha do meu exemplar do livro da sua tese sobre o aborto... Poucos anos depois este livro foi roubado, junto com o resto das coisas que estavam na mochila do meu irmão, no parque de campismo da ilha de Tavira! Ao animal que mo roubou, desejo que pelo menos tenha lido o livro!

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Um delícia de história. Uma simples, mas honesta e bela homenagem. Despretenciosa, no entanto encerrando poesia. Valeu mais do que cem horas de emissão directa num qq canal de televisão com os seus grandes repórteres em acção desconexa.

4:07 da tarde  
Blogger JTF said...

Ops... Corei...

4:33 da tarde  

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