sexta-feira, fevereiro 04, 2005

Do debate/entrevista

O Formato

Acho que o formato «entrevista a dois» tem as suas virtudes, especialmente o facto de permitir tirar dos candidatos informação concreta sobre problemas concretos de forma muito mais eficiente do que num debate tradicional, onde existe muito espaço para diálogo.

«Ah... mas dizes isso mas não se ouviu nada de concreto sobre nada!...».

Pois não... mas o formato não tem culpa! O que se verificou foi que os jornalistas não estão preparados para perguntar, calar e ouvir (as interrupções eram constantes, quer fosse para comentar, quer fosse para corrigir ou complementar a pergunta), os políticos não estão preparados para falar objectivamente e para quem os ouve (parece que só sabem falar/desconversar uns com os outros) e, se calhar, o próprio público prefere a portuguesíssima atoarda à menos tradicional explicação objectiva.

Parece-me que o caminho no futuro próximo é o regresso ao formato tradicional, mas continuo a acreditar que este formato é o mais indicado para o esclarecimento das propostas e para ajudar as pessoas a perceber com quem estão em sintonia na análise e no caminho a percorrer. O formato tradicional é o melhor para a discussão pós-derby de quem ganhou, quem perdeu, quem é que mandou a melhor boca, quem é que foi ao tapete, etc. e acho que é nesta vertente mais espectacular que o pessoal está mais interessado. É verdade que é na segunda que se vêem os melhores políticos, mas é na primeira que se vêem as melhores propostas.

P.S. Claro que estou a radicalizar e ambos os modelos têm virtudes e defeitos, mas radicalizando vêem-se melhor as diferenças.

O Conteúdo

Foi tudo tão fraquinho... tão sem entusiasmo... tão... tão... tão...

Enfim!

Sócrates foi ligeiramente mais objectivo, mas não teve chama. Quem quer a maioria absoluta, quer mudar, quer crescer e quer entusiasmar tem que acreditar no que diz e ser capaz de levar tudo à frente e toda a gente atrás de si. Sócrates não conseguiu transmitir qualquer entusiasmo e pareceu excessivamente preparado e mecanizado, o que normalmente acontece quando não se está a discursar sobre algo inato...

Santana voltou a ter um discurso mais ou menos escorreito, mas fazendo tábua rasa de tudo e mais alguma coisa. Incluindo do facto de ele ser ainda o Primeiro Ministro e de o PSD ainda ser Governo. Santana esteve melhor do que tem estado porque teve um discurso típico de oposição, que é onde ele melhor se move. Falou quase sempre como alguém que contesta o que o PS fez e o que o PS vai fazer a seguir, no fundo assumindo que já perdeu. Aliás toda a campanha do PSD tem tido este tom, como se pode ver pelo último cartaz, onde se vêem 5 ministros de Guterres (onde deveriam estar Sá Carneiro, Cavaco, Santana, Durão e Balsemão) e se lê a frase "Quer mesmo que eles voltem?". Quem quer ganhar e acha que pode ganhar tem mensagens a transmitir e a impôr - não se limita a desqualificar o adversário.

Em suma, acho que foi tudo fraquinho, sem alma e, infelizmente, creio que quem ganhou com o debate de ontem foi a abstenção!

3 Comments:

Blogger Miguel Pinto said...

Eu tb acho que o debate foi um pouco sensaborão mas que isso se deve, em primeiro lugar, aos jornalistas.

O Sócrates foi um bocado cassete.
O Santana fala sobre tudo mas estava mais tenso que o habitual, cometeu algumas gaffes e abriu caminho ao Sócrates uma série de vezes (nomeadamente quando na penúltima intervenção deu a deixa ao Sócrates para explicar que em 2005 não estamos nada melhor que em 2001/2002).

Resultado final:

Sócrates: zero
Santana: menos dois

2:57 da tarde  
Blogger molin said...

Nem vi o debate. Mas não me arrependo.
Passei apenas os olhos pela televisão: gostei do pormenor do Santana a morder, de vez em quando, a haste dos óculos de massa preta.

Só gostava de saber porque razão diz o Público, em primeira página, que o debate morno acabou por favorecer Santana Lopes.

6:25 da tarde  
Blogger mfc said...

Foi sensaborão!
Fraquinho... muito fraquinho mesmo.

9:09 da tarde  

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