quinta-feira, setembro 02, 2004

Bonanza

Como já se tinha parado de falar no assunto, ontem fui ver o Fahrenheit 9/11.

E gostei muito. Fartei-me de rir.

Independentemente de o documentário ser obviamente faccioso (alguém vai ver o filme sem saber que é faccioso?), parece-me que está bem construído. Está feito a partir de factos e os abusos/manipulações existentes prendem-se sobretudo com o relacionar factos não necessariamente relacionáveis. Mas não fomos todos manipulados e abusivamente conduzidos em todo o processo da guerra no Iraque?

No entanto, apesar dos abusos, parece-me legítimo concluir o óbvio: as relações perigosas existem e muitas das decisões tomadas são condicionadas por factores que nada têm que ver com o interesse do povo americano. Aliás, nada disto é novidade e acontece por toda a parte, não é só na administração Bush. O que também me parece ser verdade é que na administração Bush acontece mais vezes e com piores consequências. E também me parece indiscutível concluir que o W. é um tipo perigosamente pouco inteligente e pouco honesto. Mas isso também não é novo... A única coisa que eu aprendi nova sobre o tipo (o W.) no documentário foi que deve ser um gajo divertido, apesar de o seu sentido de humor se enquadrar na categoria 12-16 anos...

O que também é engraçado é observar a hipocrisia latente (o caso do infiltrado na organização pacifista de Fresno ou do tipo que foi denunciado ao FBI pelos companheiros de ginásio por fazer declarações anti-patrióticas) e ver políticos, militares e polícias a afirmarem coisas à frente de uma camera (dizer que não lêem os projectos de lei antes de os aprovar, p.e.) que só mesmo numa sociedade reality show seria possível.

No entanto houve duas coisas de que não gostei: o quase racismo latente em cada vez que dizia a palavra «sauditas» (as generalizações são odiosas) e a cedência ao sensacionalismo com a carta do militar que morreu e o desespero da mãe à frente da Casa Branca (qualquer mãe em qualquer guerra reagiria de igual forma...).

Em suma, é um documentário que deve ser visto e interpretado de forma consciente e criteriosa. Se fosse tudo falso e absurdo teria sido proibido no Texas?...

P.S. A adequação de cada música a cada momento do filme é absolutamente genial!