segunda-feira, outubro 23, 2006

Em defesa da liberdade dos indivíduos

Em Portugal é ilegal matar seres humanos. É uma regra como a regra que define que não se pode atravessar a passadeira quando o sinal de trânsito está vermelho para os peões. Tem uma função: prevenir que o se povo comece a matar sem qualquer critério e só porque a aparelhagem do vizinho está alta demais. Funciona porque sempre que a maioria das pessoas estão irritadas umas com as outras não as matam. Porquê? Muito provavelmente porque sabem que se matarem alguém e forem apanhados, arriscam-se a passar uns anos encarcerados.

Agora que já sabemos que, por princípio geral, é ilegal seres humanos, e que por mim, se pode definir que o ser humano é-o a partir do momento em que haja uma célula com cromossomas suficientes, abortar será contra esse princípio enunciado? Sim, claro que é. Excepto em alguns casos como a má formação dos fetos, violação, etc. Mas, então, porque é que se pode abortar nestas situações? Pode-se abortar porque quando é comparada a gravidade das situações se chega ao consenso (mais ou menos amplo) de que apesar de se estar a matar um ser humano que o benefício que se extrai dessa violação a um princípio base do modelo de funcionamento de sociedade é maior do que aquele que obteria se fosse completamente vedado o aborto.

Assim sendo, já cheguei à conclusão que os princípios gerais são isso mesmo, princípios.

Ora bem, se for despenalizado o aborto isso quer dizer que qualquer mulher que queira pode abortar até às não-sei-quantas semanas. Quais é que serão as repercussões disto? As mulheres, essas malucas, vão começar a foder como se não houvesse amanhã, sem qualquer preocupação sobre se engravidam ou não. Porquê? Porque sabem que podem abortar. Sinceramente não me parece que seja este o caso até porque a experiência de um aborto não deve deixar grandes saudades. Deve ser ainda pior do que arrancar um dente do siso, calculo eu. Ora, se esta questão não se põe, qual é a questão que se põe? As mulheres que iam abortar sem que isso fosse legal, continuaram a faze-lo, agora de uma forma mais segura e portanto com o benefício para elas próprias. Será que haverá mais abortos nas mulheres a quem não dá jeito ter um filho agora e que por isso decidem abortar, e só o fazem porque não é proibido? É possível. Isso é um impacto negativo? Não sei e creio que é difícil de julgar de uma forma geral. Penso que caso a caso deve ser mais fácil e que cada mulher (com sorte acompanhada pelo pai) deverá saber julgar muito melhor do que eu.

Por isso, e porque acho que os indivíduos devem ser livres de escolherem o que querem, acho que deve ser liberalizado o aborto, assim como acho que deve ser liberalizada a eutanásia. O facto de eu achar que nunca aconselharia ninguém a fazer um aborto não faz com que eu ache que deva ser ilegal fazê-lo. É como ser do Benfica. Eu acho que é uma estupidez, mas daí a ilegalizar esse comportamento parece-me excessivo.

Gostaria que me explicassem porque é que o aborto não deve ser legalizado, com argumentos racionais e terrenos Podia ser que eu mudasse de opinião. Estou aberto à discussão racional.

E sim, eu sei e estou disposto a aceitar que se mate qualquer criança que esteja dentro da barriga da mãe. A partir do momento em que sai cá para fora, passa-se a aplicar o princípio geral.

1 Comments:

Blogger mi said...

olá LN!
acabei de saber da existência deste blog, que defende o "não" (deve haver milhares deles, a favor e contra o aborto).
pode ser que contribua para a tua (nossa) busca...
beijinhos

10:00 da manhã  

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