terça-feira, setembro 06, 2005

Retornado

A viagem a Moçambique surgiu de uma forma inesperada: duas semanas de férias em Agosto desocupadas e uma vontade repentina de viajar combinaram-se com o facto de a maioria dos voos com saída de Lisboa nesse período já estarem ocupados. Sobrava Moçambique. Ao princípio a ideia parecia estranha mas a aposta valeu a pena!

A degradação da maioria das infra-estruturas (estradas, edifícios, monumentos...) choca bastante quem chega a Moçambique. Para um português é bastante difícil não embarcar num exercício imaginativo permanente do tipo “como isto devia ser” uma vez que a arquitectura é muito semelhante à que existe em Portugal. Em algumas zonas de Maputo as parecenças com a Av. de Roma / Av. Rio de Janeiro / Av. EUA / Bairro de Alvalade são imensas. As varandas são grandes, as janelas rasgadas, as áreas envidraçadas muito amplas, as palas frequentes. Os colonos não tiveram foi tempo de construir marquises antes de sair, o que me parece muito bem. O café Continental, na baixa de Maputo, recordou-me os antigos cafés onde eu ia no Porto quando era miúdo. Toda a estética parou ali pelos anos 70. Pena é que tudo esteja a desfazer-se.

Também a miséria generalizada que se vive no país incomoda. A miséria vem acompanhada de pobreza de espírito. O facto de o país ter estado em guerra muito tempo e de ainda hoje a taxa de desemprego ser elevada habituou 2 ou 3 gerações de moçambicanos a não trabalhar. A falta de horizontes (não há nenhum exemplo a seguir fora das cidades) faz com que todos se sintam felizes como estão. Para quem vem de fora é angustiante. Eles parecem felizes. Vá lá. Outro problema muito grave e que se prende com a pobreza é o da corrupção, mas isso será tratado mais adiante.

Apesar de tudo a mensagem que atravessa o país é de esperança: investimentos estrangeiros no sector do turismo e na agricultura, novas estradas, meios de comunicação social que me pareceram ter um mínimo de pluralidade (foi possível ouvir notícias críticas ao governo no pouco tempo de televisão a que assistimos ou ler críticas fortes à corrupção existente no país nas páginas da revista Mais), uma nova companhia aérea, as mensagens com elevado conteúdo pedagógico transmitidas pelos meios de comunicação social e pelo governo apelando ao trabalho e à aposta na educação ou os relatos de boas práticas feitos por quem trabalha na cooperação estrangeira fizeram-nos voltar com a vontade de regressar dentro de alguns anos para ver a (esperada) evolução rápida que se espera que o país venha a ter.