terça-feira, fevereiro 15, 2005

O que é que eu espero do debate de hoje?

Nada! Bola! Rien! Zero!

Alguém espera alguma coisa de uma reunião com 5 tipos em que cada um tem a sua "estratégia" para gerir isto (ou, pelo menos, para não o deixar ir ao fundo), todos têm mais ou menos o mesmo tempo para a explicar e vender e em que o objectivo não é outro que não seja o típico «o meu é maior que o teu!»?

Eu não...

No entanto, antecipando um pouco do que creio que vai acontecer, parece-me que:

1. Quem mais tem a ganhar com este debate são os dois partidos da direita, porque além de serem os que estão mais em causa e de quem menos se espera (como aconteceu no debate Santana/Sócrates, em que ao disparar meia dúzia de números fora de contexto, Santana ganhou o epíteto de "o homem que afinal até sabe umas coisas"), são também os mais telegénicos e os que melhor sabem como usar o meio TV.

2. Ao primeiro golpe mais assanhado da esquerda (que aparecerá... nem que o Portas tenha que fazer o Louçã perder a cabeça outra vez...) Santana usará a táctica João Pinto - atira-se para o chão, rebola com um esgar de dor e grita "estão-me a atacar! estão-me a atacar!".

3. Paulo Portas aproveitará esse momento para, na sua melhor posição de estadista, pôr-se à frente do desprotegido PSL, protegendo-o de mais ataques e soltar uma frase feita daquelas que fazem as sondagens do dia seguinte aumentar 1 ponto no PP.

4. Sócrates manterá o seu olhar n.º 3 de quem quer dizer que não tem paciência para estar a discutir com aqueles gajos e que estava melhor noutro sítio. Isso fá-lo-á ficar no estado de dormência habitual e retirar-lhe-á uma vez mais o entusiasmo necessário a conquistar o voto dos indecisos, hipotecando de vez qualquer hipótese de o PS vir a ter maioria absoluta e permitindo a recuperação dos partidos do actual (des)Governo.

5. Louçã demarcar-se-á definitivamente do PS (e a este ponto espero voltar nos próximos dias, quando terminar de ruminar umas linhas de raciocínio sobre esta problemática).

6. Quanto ao Jerónimo... sinceramente não sei muito bem o que esperar... mas se quer manter o seu eleitorado e recuperar algum, é bom que esteja a pensar em sacar algum coelho da cartola, porque o voto urbano continua (creio) em erosão.

7. Palpita-me ainda que, se as coisas aquecerem a sério (pouco provável) e se alguém à esquerda se aperceber que bater demasiado nos ceguinhos pode não ser a melhor estratégia, porque é o terreno em que eles se mostram mais à vontade (menos provável ainda), podemos vir a assistir ao segundo momento de ataque do PS ao "eleitorado centro-esquerda com vontade de votar no Bloco" e de ataque do BE ao "eleitorado PCP que se pergunta - que ando eu a fazer aqui?" (o primeiro momento foi este fim de semana, pelas vozes de António Costa e Francisco Louçã, ao mesmo tempo que Santana voltava a falar no PP como aliado e Nobre Guedes apelava ao centro e à direita, nas suas palavras «a nossa gente», para não ficar em casa e ir às urnas derrotar a esquerda - é a reorientação estratégica, no início da última semana de campanha).

Enfim... Tal como dizia no início do post, não espero nada de jeito do «tudo ao molho» desta noite. Mas pelo menos servirá para o Miguel reforçar a dose nocturna de campanha, que chegou a estar em perigo com as iniciativas de contenção de PP, PSD e PS (obrigado D. Manuel Martins e D. Januário Torgal Ferreira pela pronta condenação deste fait-divers) e assim dormir sossegado esta noite. Também amanhã terás a dose garantida, meu amigo: os comentários dos experts costumam ser ainda melhores (os meus preferidos são o Luís Delgado e o Martim Avillez Figueiredo)!

P.S. Este post ia ser uma previsão séria do que espero que aconteça hoje à noite, mas algures a meio do texto perdi o controlo da situação... as minhas desculpas, pelo sucedido. Ou então não!

4 Comments:

Blogger tinyGod said...

Por pontos,

Primeiro, concordo com as tuas antecipações face ao debate de hoje. Para além de constituir um bom programa de entretenimento ele é a última réstia de esperança para conquistar os indecisos.

Segundo, as afirmações (insinuações) sobre o alegado aproveitamento político da morte da irmã Lúcia, proferidas por individualidades da Igreja soam muito mal. É mais uma tentativa de influência da Igreja no plano político, que coloca Portugal ao nível de um qualquer país islâmico, onde tudo se confunde! No tempo dos Faraós ainda se compreendia, agora no século XXI, tenham dó…

Mostra bem até onde vão os aliados do PS!

4:10 da tarde  
Blogger JTF said...

Estás a dizer que achas que ao suspender a campanha estes partidos fizeram o que deviam? Ou que estão de facto tremendamente tristes e de luto?

4:20 da tarde  
Blogger tinyGod said...

Não tenho comentários a fazer quanto ao rumo que cada partido seguiu depois dos acontecimentos do dia 13.

Que a irmã Lúcia é/foi importante para muitas pessoas, não tenho dúvida, e ver-se-á pela quantidade de devotos de Fátima que estão hoje a participar nas cerimónias fúnebres. Que o PR também é favorável ao luto nacional, não há dúvida.

Que mal pode ter que alguns partidos, por respeito à dor e ao sofrimento de alguns, decidam interromper as acções de campanha, muitas vezes conotadas com festa e alegria?

Estas critícas fazem lembrar aquelas coisas de criança quando o menino Zézinho vai a correr dizer à Professora que o Joãozinho comeu um rebuçado depois do almoço. E depois? Que mal tem? Estará a Igreja e alguma "Esquerda Moderna" a pensar que o povo não sabe distinguir as águas. Calma!

in Público online, "(...)Os diferentes Governos já o [Luto Nacional] decretaram por motivos tão díspares como o falecimento do Imperador do Japão, em 1989, o 11 de Setembro de 2001, o massacre no cemitério de Santa Cruz em Timor-Leste, em 1991, ou a morte de Sousa Franco em 2004. O mês de Julho desse ano assistiu ao desaparecimento da poetisa Sophia Mello Breyner Andresen (dia dois) e da ex-primeira-ministra Maria de Lourdes Pintasilgo (dia 10). Em nenhum dos casos foi decretado luto nacional ou os funerais mereceram honras de Estado"

5:24 da tarde  
Blogger JTF said...

Note-se que eu estou totalmente de acordo com a declaração do luto nacional e reconheço a importância da Irmã Lúcia para uma parte significativa da população portuguesa (provavelmente maioritária, até). Não estou de acordo que o luto nacional neste caso ponha em risco a laicidade do Estado... É uma figura pública marcante do último século português e por isso merece o respeito de todos. Só discordo de aproveitamentos abjectos feitos sempre que morre alguém - esta paragem tem óbvias intenções de conquista de simpatia de uma parte significativa do eleitorado e senão, veremos o que é dito esta noite sobre o assunto... E sim: achei muito mal que o mesmo não fosse feito no caso da Pintassilgo, que era merecedora no mínimo de tratamento igual ao que teve Sousa Franco!

5:35 da tarde  

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